Depósitos no exterior ligam Paulo Preto também ao esquema em obras do metrô

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Paulo Preto está cada vez mais enrolado com os homens da lei

Dimitrius Dantas
O Globo

Três depósitos realizados em menos de um mês por uma offshore uruguaia em contas do ex-diretor da Dersa Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto, ligam pela primeira o operador de propina do PSDB ao escândalo do Metrô em São Paulo. Documentos enviados por autoridades suíças ao Ministério Público Federal mostram que, entre março e abril de 2008, Paulo Preto recebeu 254 mil euros da Leraway Consulting, sediada em Montevidéu. Essa empresa já foi apontada pelo Ministério Público de São Paulo como uma das responsáveis por realizar pagamentos de propinas a agentes públicos envolvidos no cartel das empresas do Metrô paulista.

Até o momento não havia ligações entre Paulo Vieira e o esquema de fraudes em projetos do Metrô, somente em obras que o engenheiro executou enquanto diretor da Dersa. Nesse caso, ele, que teria movimentado R$ 113 milhões no exterior, já foi condenado a 145 anos de prisão por fraudes em obras do rodoanel, uma malha viária na região metropolitana de São Paulo.

CONDENAÇÕES – Nas últimas duas semanas, o operador foi condenado duas vezes pela Justiça Federal de São Paulo por crimes como corrupção passiva, fraude à licitação e formação de cartel.

Segundo o Ministério Público Federal, um dos administradores da Leraway é Arthur Gomes Teixeira, denunciado em 2017 pelo MP de São Paulo, junto com Sérgio Meira Teixeira, já falecido. De acordo com a denúncia, Teixeira teria ocultado e dissimulado a origem e propriedade de dinheiro pago em forma de propina por meio de empresas de consultoria em seu nome. Entre elas, a Leraway.

Os valores faziam parte de pagamento de 5% do valor total dos contratos e teriam sido transferidos para servidores públicos e agentes políticos. Tais servidores não foram, contudo, identificados pela investigação à época. Em 2008, Paulo Vieira ainda era diretor da Dersa, estatal do governo de São Paulo.

PROPINAS EM EUROS – Os pagamentos feitos pela Leraway a Paulo Vieira foram divididos em três, todos em euros: o primeiro, em 20 de março de 2008, de 117 mil; o segundo, em 11 de abril, de 77 mil; e o terceiro, de 17 de abril, de 60 mil euros. Paulo Vieira foi diretor do metrô no início da década de 1990.  O escândalo do Metrô de São Paulo veio a público após a Siemens firmar acordo de colaboração no qual detalha a formação de um cartel de empresas para fraudar licitações do Metrô e da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM).

Uma série de denúncias feitas em âmbito federal e estadual indicaram que, entre 1998 e 2008, as empresas Alstom e Siemens venceram licitações do Metrô para o fornecimento de equipamentos para as novas linhas de Metrô. Na época, o Ministério Público apontou que ambas firmaram contratos com empresas de consultoria, entre elas, a Leraway.

De acordo com denúncia apresentada pelo Ministério Público Federal de São Paulo em 2017, a Leraway e outras empresas offshore eram subornadas conforme as empresas recebiam pagamentos da CPTM.

NÃO ERA CITADO – À época, no entanto, os procuradores não citaram Paulo Vieira como um dos possíveis beneficiários de repasses da conta. Segundo a denúncia, a Leraway recebeu US$ 1,6 milhão das empresas. O advogado de Arthur Gomes Teixeira, Eduardo Carnelós, afirmou que seu cliente não foi sócio da Leraway.

— Arthur Gomes Teixeira nunca foi sócio da empresa Leraway Consulting S.A, que pertencia a Sérgio Meira Teixeira, falecido em 2011. Apesar dos sobrenomes iguais, Arthur e Sérgio não eram parentes. Aliás, em depoimento prestado na semana passada, nos autos de ação penal a que Arthur responde perante a 6ª Vara Criminal Federal em São Paulo, a viúva do senhor Sérgio disse que seu marido era proprietário da empresa Leraway, cuja existência ela conhecia, mas não as atividades e negócios mantidos — disse.

OUTRA EMPRESA – Os documentos enviados pelas autoridades suíças mostram uma série de pagamentos de outra empresa offshore para Paulo Vieira, a Lunsville International. A empresa foi citada na delação do empresário Joesley Batista, da JBS, como sendo uma das contas mantidas pelo grupo no exterior para realizar pagamentos para políticos.

Paulo Vieira recebeu, também em 2008, quatro depósitos da empresa, totalizando US$ 516 mil. Segundo delação premiada de um dos executivos da empresa, Demilton Antonio de Castro, o Grupo J&G, desde o ano de 2000, destinou entre 1% e 3% para pagamento lícito de comissões originadas das exportações de suas empresas. De acordo com o colaborador, quando os pagamentos de propina eram feitos em espécie, no Brasil, Joesley determinava que os pagamentos saíssem de uma dessas empresas para contas no exterior indicadas por doleiros.

INTERMEDIÁRIA – Na prática, portanto, a conta da offshore funcionava como intermediária para as chamadas operações de dólar-cabo: a empresa, em parceria com doleiros do Brasil, depositava valores em contas não identificadas no exterior, em países como a Suíça, onde o beneficiário não é identificado. A empresa recebia desses operadores os valores em dinheiro no Brasil.

Em nota, a J&F informou que entregou ao Ministério Público Federal todos os extratos de suas contas bancárias por ocasião da celebração dos acordos de colaboração e de leniência. Os dados incluem todas as movimentações realizadas, desde a abertura das contas até a última movimentação. “A J&F, seus acionistas e executivos são colaboradores da Justiça e continuam rigorosamente comprometidos com os programas de combate à corrupção e ética empresarial, implementados para que os erros do passado nunca mais se repitam”.

O Globo procurou a defesa de Paulo Vieira, que não respondeu até a publicação dessa reportagem.

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