O boom cervejeiro no Brasil

Crescimento foi impulsionado por cervejas artesanais. Em 2018, o setor cervejeiro ganhou 210 cervejarias e movimentou R$ 8,5 bilhõesO boom cervejeiro no BrasilApenas em 2018, foram registrados 6,8 mil novos produtos entre cervejas e chopes (Foto: Max Pixel)
Por Henrique Schmidt
A cerveja faz parte do dia a dia do brasileiro. Desde o século XX, a bebida tem se tornado cada vez mais popular. No entanto, apenas na segunda década do século XXI as cervejas artesanais começaram a se tornar mais conhecidas.

Enquanto no final dos anos 1990 e no início dos anos 2000 era normal ver apenas cervejas tradicionais, como Brahma, Skol e Antarctica, nos últimos anos as cervejas artesanais caíram no gosto popular. A acessibilidade a esse tipo de bebida seria um dos principais motivos para que o mercado expandisse.

Segundo dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o número de cervejarias cresceu 23% somente em 2018, com 210 novas fábricas sendo abertas. Em média, uma cervejaria abriu as portas a cada dois dias. Ao todo, existem hoje 889 estabelecimentos e 16.968 produtos legalmente registrados na Pasta.

Apenas em 2018, foram registrados 6,8 mil novos produtos entre cervejas e chopes. Foi o segmento que teve o maior número de registros em 2018. Em seguida, aparecem os produtos de polpa de frutas, com cerca de 2,7 mil novos registros, vinho, com aproximadamente 1,8 mil novos produtos, e bebidas alcoólicas mistas, com mil novos registros.

Em entrevista ao Opinião e Notícia, Carlo Lapolli, presidente da Associação Brasileira de Cerveja Artesanal (Abracerva), destacou que diferentes fatores estão influenciando o crescimento do mercado de cerveja brasileiro. Para ele, a maior disponibilização das cervejas e a mudança na maneira de consumo foram essenciais para o crescimento das cervejas artesanais.

“A economia tem um peso nisso, mas não é a única responsável. Algo que merece destaque é o fato de que o consumo mudou. As pessoas estão procurando cervejas de qualidade e acabam se interessando pelo universo das artesanais. Outro fato que colaborou para isso é que os produtos estão chegando ao consumidor. Supermercados, conveniências, bares e restaurantes estão dando espaço para estas marcas independentes e o público dando maior acesso ao público”, explicou.

Ao todo, 479 cidades brasileiras contam com, pelo menos, uma cervejaria, um número que representa quase 10% de todos os 5.570 municípios brasileiros. O Rio Grande do Sul é o estado com o maior número de fábricas (186), seguido por São Paulo (165) e Minas Gerais (115). Se analisadas as regiões, Sul (369) e Sudeste (328) contam com mais de 700 cervejarias.

Segundo dados da Kantar Worldpanel, que é especializada em comportamento de consumo, 18 milhões de pessoas consumiram cerveja fora de casa em 2018, com um gasto médio de R$ 40. Dessa forma, de acordo com o levantamento, o mercado cervejeiro movimentou R$ 8,5 bilhões no mesmo período.

“Acredito que oferecer uma boa carta de cervejas passou de ser um diferencial para algo essencial nos estabelecimentos. E isso é bom para todos os lados. Ganha o consumidor, que passa a beber uma cerveja de qualidade, e o restaurante, que tem a certeza de que está oferecendo o melhor para o seu público”, apontou Lapolli.

O setor cervejeiro também atuou na geração de empregos formais. De acordo com dados da Abracerva, tendo números do Mapa como base, entre janeiro e outubro do ano passado foram gerados 1.757 postos de trabalho. As pequenas cervejarias, com até quatro funcionários, foram as principais responsáveis pela geração de empregos, disponibilizando 800 vagas.

“O mercado das cervejas artesanais deixou de ser uma modinha e se consolidou. E, de acordo com os últimos dados, está crescendo em ritmo acelerado. Só em 2018, o Brasil ganhou 210 novas fábricas de artesanais, isso sem contar as marcas ciganas, que são empresas legalmente constituídas, mas sem estrutura produtiva própria. O maior problema do setor ainda são as cargas tributárias do país, o que acaba pesando sobre o preço do produto. Estamos buscando novos incentivos fiscais e propondo que seja concedido um incentivo para a produção de malte e lúpulos nacionais, para que a cerveja artesanal se torne mais competitiva na questão de valor”, destacou o presidente Carlo Lapolli.

Cervejas artesanais

Segundo um estudo da startup MindMiners, em parceria com a A.T. Kearney, de janeiro de 2018, as tradicionais Brahma e Skol ainda lideram como as marcas mais conhecidas do público brasileiro. Ademais, o estudo revela que, apesar da maioria dos brasileiros entrevistados já ter experimentado cerveja artesanal (53%), poucos têm o hábito de realmente consumir (12%).

Por outro lado, a maioria das pessoas não consomem cervejas artesanais por nunca terem tido a oportunidade (72%). Já 13% dos entrevistados apontaram o alto preço desse tipo de bebida como um dos principais fatores para não ter o hábito de consumir. Outros 12% disseram ter achado o sabor muito forte.

A maioria dos consumidores frequentes são homens, entre 25 e 40 anos de idade, e pertencem às classes mais altas da sociedade. Os principais motivos apontados pelos entrevistados para o consumo foram o sabor, a admiração pela cultura da cerveja artesanal e o fato de existirem mais opções desse tipo de bebida.

De acordo com Lapolli, muitas pessoas conhecem cervejas artesanais através de festivais cervejeiros, como a Oktoberfest (SC) e a Bauernfest (RJ), ou de comidas artesanais. Isso porque os diferentes estilos da bebida permitem a harmonização com tipos de prato, bem semelhante às harmonizações entre queijos e vinhos apontadas por sommeliers.

“Os festivais e eventos relacionados a cerveja tiveram – e ainda têm – um papel importante neste movimento. O público que prestigia esses eventos acaba se abrindo aos novos sabores e rótulos das artesanais, se aproximando desse universo. Com o tempo, este tipo de programação foi se tornando mais comum e continuam tendo um papel importante, principalmente para novas marcas. A cerveja artesanal está diretamente ligada à boa comida”, afirmou ao O&N.

Por fim, o estudo da MindMiners conclui que o hábito de consumo cervejeiro mudou, com as pessoas indo além dos rótulos tradicionais, e demonstrando que a publicidade, por si só, não é mais suficiente para conquistar lealdade do consumidor com uma determinada marca. “As marcas mais tradicionais de cerveja vão precisar passar por um reposicionamento se quiserem permanecer como a primeira opção do novo brasileiro apreciador de cerveja, exigente e antenado”, finaliza o relatório.

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