Janaína Paschoal denuncia esquema investigado pelo Coaf

Em uma série de tuítes, deputada eleita confirma existência de esquema no qual deputados coletam parte de salário dos assessores

Janaína Paschoal denuncia esquema investigado pelo Coaf
Deputada afirma que o esquema é mais prejudicial do que parece (Foto: Geraldo Magela/Agência Senado)

A futura deputada estadual por São Paulo, Janaína Paschoal (PSL-SP) denunciou na última quarta-feira, 12, um esquema no qual parlamentares cobram de funcionários de seus gabinetes o depósito de parte dos salários.

Em uma série de 17 postagens no Twitter, a deputada eleita afirmou que “muito antes do relatório do Coaf [Conselho de Controle de Atividades Financeiras]”, um funcionário da Corregedoria da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) “montou um curso para os Deputados eleitos, com o objetivo de alertá-los de alguns problemas que podem enfrentar na futura gestão”.

No curso, foram detalhadas práticas que ensejam a atuação da Corregedoria na Casa. Dentre as práticas, está a devolução de salário por parte de assessores. Citando a Alesp, Janaína destaca que cada deputado pode contratar até 32 assessores.

“Os salários são muito bons, quando se compara com o mercado. Com os salários oferecidos pela Casa, o Deputado pode procurar bons quadros, pessoas especializadas e/ou pessoas dispostas a trabalhar muito em prol do bem público. No entanto, algumas vezes, o parlamentar prefere contratar alguém com capacitação incompatível com o salário. E por quê? Porque esse alguém vai ficar muito satisfeito com uma parte do salário pago e, para mantê-lo, vai devolver uma boa parte ao parlamentar. Haja vista que essa verba (para contratação) fica à disposição do Deputado, algumas pessoas acham natural a devolução (?!)”, disse a deputada eleita.

Segundo as postagens, os funcionários envolvidos não denunciam a prática porque se o fizerem serão enquadrados como participantes do esquema, e terão de devolver seus salários. Ela afirma que essa abordagem dificulta a coibição da prática ilegal e que manter tal esquema vigente é mais prejudicial do que parece.

“Tenho tentado explicar às pessoas que esse tipo de prática é bem mais deletéria do que parece, pois, com o tempo, o parlamentar para de procurar pessoas competentes e passa a buscar pessoas rasas e inseguras, que se submetem. Pior, não raras vezes, o parlamentar contrata pessoas que sequer comparecem para trabalhar, pois o fim é apenas obter o salário de volta! Quero deixar muito claro que não estou falando nem de A, nem de B. Quero deixar bem claro que estou falando do Brasil que queremos ter!”, diz a deputada.

A denúncia de Janaína Paschoal vem na esteira da divulgação do relatório do Coaf que alçou o presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL) e seu filho, o senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), ao centro de uma polêmica envolvendo o esquema.

O relatório aponta uma movimentação atípica de R$ 1,2 milhão, entre os dias 1º de janeiro de 2016 e 31 de janeiro de 2017, na conta de Fabrício Queiroz, amigo pessoal da família Bolsonaro, que foi assessor de Flávio Bolsonaro durante dez anos, além de ter atuado como motorista e segurança do parlamentar na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj).

Segundo o relatório, sete servidores que passaram pelo gabinete de Flávio Bolsonaro fizeram transferências bancárias para uma conta mantida por Queiroz. No relatório, o Coaf informou ter detectado as movimentações porque elas são “incompatíveis com o patrimônio, a atividade econômica ou ocupação profissional e a capacidade financeira” de Queiroz, que, como revelou uma reportagem do jornal Globo, mora em uma casa de vila humilde, no bairro da Taquara, zona Oeste do Rio. Uma das movimentações detectadas pelo Coaf apontou um depósito de R$ 24 mil na conta da futura primeira-dama, Michelle de Paula Bolsonaro, feito por Queiroz.

Na noite da última quarta-feira, 12, Bolsonaro falou sobre o caso em um vídeo postado em sua conta no Facebook. Nele, o presidente eleito diz que a suspeita referente aos depósitos “dói no coração”, pois sua campanha teve forte viés no combate à corrupção. Bolsonaro destacou que nem ele nem seu filho são investigados pelo Coaf, uma vez que, no momento, a investigação se concentra nos depósitos feitos por funcionários de gabinetes parlamentares, como Queiroz.

Porém, Bolsonaro afirma que pretende pagar por eventuais irregularidades. “Se algo estiver errado, seja comigo, seja pelo meu filho, Flávio, que paguemos a conta, porque nós não podemos comungar com o erro de ninguém”, disse o presidente eleito.

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