‘Batalha das Paixões’: herdeiros legais e intelectuais de José Pimentel entram em atrito

Lilian pleiteia a salvaguarda da imagem, nome e legado de seu pai, José Pimentel

Lilian pleiteia a salvaguarda da imagem, nome e legado de seu pai, José PimentelFoto: Ed Machado/Folha de Pernambuco
Por: Mariana Mesquita, da Folha de Pernambuco

Um novo capítulo da “batalha das Paixões” se desenrolou na última sexta-feira (30), envolvendo os grupos capitaneados pelo produtor Paulo de Castro, que trabalhou com o falecido ator e diretor José Pimentel por quase 40 anos, e pela filha deste, Lilian Pimentel.

Ambos informaram à imprensa já possuir autorização da Prefeitura do Recife para realizar o espetáculo, durante aSemana Santa do próximo ano. Paulo defendeu seu direito a promover o evento e apresentou seu futuro Jesus Cristo, o ator pernambucano (radicado no Rio de Janeiro) Bruno Garcia. 

Lilian mostrou-se magoada e afirmou que está processando Paulo por conta de postagens nas redes sociais e pelo uso do nome e imagem de seu pai e da marca “Paixão de Cristo do Recife“, criada por José Pimentel em 1997. “Queremos proteger os direitos da família em relação ao legado e à obra dele”, afirmou ela.

A primeira coletiva ocorreu no Museu do Trem, no Bairro de Santo Antônio, centro do Recife. Paulo enviou um convite à imprensa afirmando que “a renovação é sempre bem vinda” e contou que procurou negociar com a família Pimentel antes de optar por realizar seu próprio espetáculo, que segundo ele está agregando “mais de 80% do elenco” que trabalhava com o falecido ator (entre eles, o diretor Carlos Carvalho e o também produtor Antônio Pires, que é casado com a irmã de Pimentel).

Ele disse que procurou a viúva, dona Aurinete, e sua única filha, Lilian, que negou-se a entrar em um acordo. “Não quero mais o texto, nem a direção de Pimentel. Vamos fazer outra Paixão, mas ela é a Paixão de Cristo do Recife, sim, e não pode ser diferente”, declarou.

Grupo liderado por Paulo de Castro terá Bruno Garcia (em pé) no papel de JesusGrupo liderado por Paulo de Castro terá Bruno Garcia (em pé) no papel de Jesus – Crédito: Ed Machado/Folha de Pernambuco

Logo em seguida, na sede do Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversão no Estado de Pernambuco (Sated-PE), na Casa da Cultura, a poucos metros de onde o primeiro grupo havia se reunido, Lilian se pronunciou na companhia de seu advogado, Rodrigo Scholz. “A família pleiteia a salvaguarda da imagem, nome e legado de Pimentel, que não podem ser utilizados por terceiros sem autorização”, pontuou Scholz.

Lilian esclareceu que não pode proibir ninguém de realizar espetáculos mostrando a história bíblica do calvário de Jesus, mas que a expressão “Paixão de Cristo do Recife” foi cunhada por seu pai, bem como foi dele a escolha do local onde o evento costuma acontecer, no Marco Zero.

Lilian disse que a família ficou extremamente ofendida com o fato de Castro ter comunicado sua intenção de realizar o espetáculo “no dia da missa de Sétimo Dia de José Pimentel” – na visão dela, aproveitando-se da comoção em torno da morte deste – e relembrou que a última vez que Paulo produziu a Paixão foi em 2017. “Na última edição, em 2018, quem realizou o evento já foi a Gama Produções, de Roberto Costa, com quem estamos trabalhando e a quem meu pai deu uma carta de anuência de três anos”, relembrou.

Ela também acusou a outra produção de estar tentando autorização para captar verba via Lei Rouanet usando o nome de Pimentel. “Pedimos a impugnação junto ao Ministério da Cultura de uma verba de R$ 462 mil. Eles apresentaram uma procuração de meu pai relativa ao evento de 2018, que acabaram não produzindo. Agora, além de ilegal porque ele já faleceu, estão usando um documento datado, que não vale para 2019”, acusou.

   Uso do Marco Zero

A reportagem procurou a Prefeitura do Recife para saber a versão oficial diante do imbróglio, já que os dois lados afirmaram ter documentação autorizando o uso do espaço do Marco Zero, no Bairro do Recife, em abril do ano que vem. Por meio de nota, a Diretoria Executiva de Controle Urbano (Dircon) informou que recebeu dois pedidos de consulta prévia para a realização de evento, mas que o pedido de viabilidade não configura permissão ou autorização definitiva.

O texto afirmou, ainda, que “o Marco Zero é um dos principais atrativos turísticos da cidade e desde 2013 a gestão tem sido rigorosa em relação às licenças para realização de eventos no local”, e que desde 2013 apenas o Carnaval, a Paixão de Cristo do Recife e o Baile do Menino Deus têm ocorrido no espaço.

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