Nova crise: futura ministra da Agricultura diz que o Brasil pode sair do Mercosul

Tereza Cristina garante dar apoio à agricultura familiar

Eduardo Bresciani
O Globo

Indicada pelo presidente eleito, Jair Bolsonaro, para ficar à frente do Ministério da Agricultura a partir de janeiro, a deputada  Tereza Cristina )DEM-RS) disse ao Globo que o Brasil precisa rever os acordos estabelecidos pelo Mercosul, especialmente nas negociações envolvendo produtos da agropecuária. Ela disse que o país deve deixar o bloco, caso as condições continuem desvantajosas, e defendeu o aprofundamento das relações comerciais com a China.

Na sede da Frente Parlamentar Agropecuária, da qual é presidente, ela sustentou que moradores de áreas rurais precisam ter armas em casa, por uma questão de segurança. E pontuou que novas áreas podem ser desmatadas, especialmente no chamado Matopiba (nova fronteira agrícola entre o Maranhão, o Tocantins, o Piauí e a Bahia), desde que o código florestal seja respeitado

HAVERÁ REAÇÕES– Outra proposta do futuro governo de vincular as áreas da agricultura familiar e da reforma agrária ao Ministério da Agricultura, confirmada pela deputada Tereza Cristina, também deve provocar reações de entidades do setor. Dirigentes da Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares ( Contag ) e do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra ( MST ) dizem que a subordinação dos dois setores ao ministério acabará por privilegiar o agronegócio e prejudicar a adoção de políticas públicas específicas para os pequenos agricultores.

A vinculação das áreas foi tratada por Tereza Cristina em entrevista à rádio CBN. Ela afirma que o estudo de anexar as áreas ocorre a pedido da equipe de transição. “O Ministério da Agricultura vai incorporar várias atividades que estão em outros ministérios. A equipe de transição me pediu para trazer várias atividades para o Ministério da Agricultura, como a agricultura familiar, que está em estudo preliminar, a pesca virá, a Anater (extensão rural), a área de floresta plantada, e o Incra também viria para o ministério”, disse a futura ministra.

DIFICULDADES – Ela garante que pretende dar prioridade para a agricultura familiar em sua gestão, destacando a necessidade dos pequenos produtores de ter acesso a crédito e tecnologia. As entidades que atuam no setor, porém, afirmam que a reunião de todos os temas na mesma pasta deve criar dificuldades para o desenvolvimento de políticas específicas. O presidente da Contag , Aristides Santos, destaca que, desde 1999, na gestão de Fernando Henrique Cardoso, até o início da gestão de Michel Temer havia um ministério especificamente voltado para essas áreas, o do Desenvolvimento Agrário.

A estrutura perdeu status no governo Temer, sendo relegada a uma secretaria no âmbito da Casa Civil, e a distribuição de alguns órgãos por outras pastas, como Desenvolvimento Social. Aristides afirma que houve um esvaziamento, com perda de recursos e capacidade técnica, e que a decisão de subordinar o tema à pasta da Agricultura seria ainda pior.

ÁREAS DIFERENTES – “Para a Contag é muito claro o que tínhamos conquistado desde governo Fernando Henrique Cardoso, quando foi criado o MDA. Era uma visão de que o agronegócio tem importância e a agricultura familiar também. São áreas muito diferentes. As demandas do agricultor e do grande empresário são completamente diferentes e a familiar depende muito mais do estado. Quando você junta, acaba priorizando o que é maior, o que dá mais visão, o que tem dinheiro. Os outros dão muito trabalho. E você escolhe ainda uma pessoa ligada ao agronegócio e que não conhece nada de agricultura familiar e reforma agrária. Essa priorização, então, vai acontecer. Não é por mal, mas é porque não entende a área”, diz Aristides Santos.

Ele afirma que a entidade está preparando uma plataforma de prioridades a ser apresentada ao governo eleito e disse pretender procurar Tereza Cristina para falar do tema. Apesar de a entidade ser vista como vinculada à esquerda, o presidente sustenta que a Contag é apartidária e ressalta que havia negociação com o governo mesmo durante a ditadura militar.

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