Museu com afeto recebe visitantes em Jaboatão dos Guararapes

Com um acervo pequeno, mas carregado de afeto, o Museu do Instituto Histórico de Jaboatão é apresentado na segunda reportagem sobre centros culturais localizados em municípios do Grande Recife e da Zona da Mata Sul de Pernambuco. A série teve início nesse domingo (19/08) e termina na próxima quinta-feira (23)

Zuleick Lopes Araújo e o fogareiro com frigideira para fazer a papinha do bebê
Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
Cleide Alves
cleide@jc.com.br

Por vários anos Zuleick Lopes de Araújo era tirada da cama às 5h pelas batidas de um relógio de parede. Fabricado em 1864, ele acompanhou a vida da família de 1952 até 2006 quando a dona de casa doou a relíquia ao Museu do Instituto Histórico de Jaboatão, localizado no Grande Recife. No centro cultural, a peça do século 19 se junta a outros objetos carregados de afeto que tinham uso até um dia desses e hoje contam a passagem do tempo.

“É um relógio que marcou muitas coisas boas e muitas horas tristes. Mas alegrias e tristezas ficam registradas no relógio da própria vida”, diz Zuleick Araújo, 90 anos, ao falar sobre a doação do objeto. O museu, instalado no prédio da antiga cadeia pública, em Jaboatão Centro, também exibe aos visitantes um pequeno fogareiro a álcool, de ferro, acompanhado de uma frigideira para o preparo da papinha do bebê, saído da cozinha de Zuleick Araújo.

GALERIA DE IMAGENS

Fundado em 1973, Instituto Histórico de Jaboatão dos Guararapes funciona em Jaboatão Centro
Legenda
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Antigamente, diz ela, era comum se presentear grávidas com esse utensílio. “Eu ganhei o fogareiro de um compadre para a minha primeira filha”, declara Zuleick, moradora de Jaboatão dos Guararapes e que administra a biblioteca do Instituto Histórico. Os rádios expostos ao público, continua, embalaram festas e agregaram vizinhos em busca de notícias frescas do Brasil e do mundo.

“Quem tinha rádio eram as famílias ricas, as pessoas que não tinham o aparelho se reuniam nessas casas para ouvir as notícias”, recorda Zuleick Araújo. “Dancei ao som do rádio nos assustados e saraus dos sábados”, afirma. Hoje peças de museu, os ferros de engomar roupas, aquecidos com carvão em brasa, também faziam parte do cotidiano de Zuleick. “Quando o ferro começava a esfriar, era preciso soprar a brasa, fiz isso muitas vezes.”

O Instituto Histórico de Jaboatão, criado em maio de 1973, não tinha sede. “A gente ocupava uma sala na biblioteca. Só em 2006 o governo de Pernambuco nos cedeu o prédio da cadeia, em regime de comodato”, informa Jackson Vieira de Melo, fundador e atual presidente entidade. Nesse mesmo ano é inaugurado o museu, com peças que ficavam guardadas nas casas dos sócios.

O acervo é composto de objetos doados por moradores de Jaboatão dos Guararapes e comprados pela entidade. “Temos um purgador de 1840 do Engenho Pocinho, daqui do município, usado para clarear o açúcar”, diz Jackson Vieira de Melo. Visitantes também podem contemplar palmatórias para aplicar castigo nos estudantes em colégios da cidade; uma Carta do ABC de 1924; e uma carteira de passe escolar para o trem da década de 1930, vendida pela Great Western.

“Recebemos, para expor no museu, um porta-retratos com a foto da pianista Amélia Brandão (1897-1983), a mulher que inspirou a música Minha Tia (1976), de Roberto Carlos. Ela nasceu em Jaboatão e mudou-se para o Rio de Janeiro”, declara Jackson Vieira de Melo. O museu é guardião da tribuna de madeira com mais de 100 anos da Câmara Municipal e de três cadeiras com assento e encosto de couro gravadas com o brasão da prefeitura.

Memória

Numa sala destinada a quadros pintados por artistas de Jaboatão dos Guararapes Zuleick Araújo chama a atenção para um desenho que retrata o prédio da cadeia pública no ano de 1925, com o trem passando na frente da edificação. “A máquina que se vê na pintura era a Catita, ela transportava cana para as usinas e circulou até 1952 pelo Centro”, comenta.

“A Catita soltava muita fagulha no caminho, então, toda vez que ela se aproximava do Centro o dono do armarinho Reforma, que vendia tecidos chiques, corria para esconder tudo com medo de as faíscas queimarem os panos. As lojas de colchão de palha também faziam o mesmo”, lembra Zuleick Araújo. “As mulheres também recolhiam as roupas que estivessem no varal”, acrescenta Jackson Vieira de Melo.

O museu fica na Rua Desembargador Henrique Capitulino, 65, e abre das 8h às 12h nas segundas, quartas e sextas-feiras; e das 13h às 17h nas terças e quintas-feiras. O ingresso individual custa R$ 2 e grupos de 15 pessoas pagam R$ 10 pela visita. O dinheiro ajuda na manutenção do prédio, construído em 1923 na gestão do governador Sérgio Loreto.

“Não temos subvenção, dependemos da contribuição dos sócios”, observa Jackson Vieira de Melo. O instituto tem acervo documental disponível para consulta (acadêmicos precisam pagar R$ 5) e preserva, na edificação, uma cela da antiga cadeia destinada aos presos homicidas, em Jaboatão dos Guararapes. O telefone para agendar visitas é o (81) 3481-4659.

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