A briga de um algoritmo contra a nudez cubista em obras de Picasso

Após ter imagens de obras do pintor espanhol barradas pelo Facebook diversas vezes, museu canadense pediu avaliação humana sobre o tema

â??Femmes à la toiletteâ? (1956) e â??Grande nature morte au guéridonâ? (1931), ambos de Pablo Picasso

FOTO: REPRODUÇÃO/PABLO PICASSO/MBAM –

‘FEMMES À LA TOILETTE’ (1956) E ‘GRANDE NATURE MORTE AU GUÉRIDON’ (1931), AMBOS DE PABLO PICASSO

Por Murilo Roncolato
Na última semana, o Museu de Belas Artes de Montreal, no Canadá, teve problemas ao tentar divulgar, por meio de anúncios no Facebook, a exposição que abriga obras do espanhol Pablo Picasso (1881-1973). A publicação anunciada era ilustrada com “Femmes à la toilette”, tela de 1956, que mostra duas mulheres nuas ao estilo cubista. O algoritmo do Facebook captou a presença de nudez na imagem e barrou o anúncio. O museu não desistiu, mas optou por trocar a imagem usada por outra obra de Picasso, “Grande nature morte au guéridon” (1931), na qual o artista representa, ao seu modo e repleto de figuras curvas, uma natureza morta exposta sobre uma mesa em pedestal. Para surpresa do museu canadense, o novo anúncio também foi rejeitado depois de alguns dias no ar pois, segundo o museu, o algoritmo identificou um par de peitos femininos na tela do espanhol. Insistente, a página da instituição fez uma nova tentativa, dessa vez adotando uma foto que dava uma panorama da exposição, incluindo algumas das obras à distância. Dentre elas, o atento algoritmo identificou, novamente, mulheres com peitos descobertos e barrou a circulação do anúncio. “No fim, a gente ficou exasperado e falou ‘Ok, chega, a gente pode conversar com uma pessoa para termos uma discussão franca, porque é impossível ter uma discussão franca com um algoritmo”, disse o chefe de comunicação do museu ao site Artsy. Da conversa entre representantes humanos, que se deu na cidade de Toronto, o Facebook concordou em criar regras específicas para museus e organizações ligadas à arte. “Esperamos que eles mudem essa política globalmente, o que seria bom para nós e para todos os museus, já que não é a primeira vez que um museu tem esse problema”, afirmou o porta-voz da instituição canadense.

Casos passados

â??The Descent from the Crossâ?? (1614), de Peter Paul Rubens

FOTO: REPRODUÇÃO/PETER PAUL RUBENS ‘THE DESCENT FROM THE CROSS’ (1614), DE PETER PAUL RUBENS

Em julho de 2018, o Facebook se tornou motivo de revolta e piada entre os flamengos residentes na região norte da Bélgica. O caso envolve a agência oficial de turismo de Flandres, que decidiu usar telas de conhecidos artistas locais em anúncios na rede social como forma de atrair visitantes. Entre eles, estavam Pieter Bruegel (1525-1569), Jan van Eyck (1390-1441) e Peter Paul Rubens (1577-1640). Foi com as obras deste último, pintor barroco especialmente conhecido por seus retratos de figuras nuas, que o Facebook passou a criar problemas. “Peitos, nádegas e os querubins de Peter Paul Rubens são todos considerados indecentes. Não por nós, mas por vocês”, escreveu a agência de turismo flamenga, em uma carta destinada a Mark Zuckerberg, presidente do Facebook. “Embora nós secretamente temos rido do assunto, sua censura cultural está tornando nossa vida bem difícil”, concluiu a instituição. Dentre as obras censuradas pelo algoritmo da rede social estava a obra “The Descent from the Cross” (de 1614), que retrata o corpo parcialmente coberto de Jesus Cristo sendo tirado da cruz. Sem conseguir circular os anúncios com as imagens que gostaria, a agência publicou no dia 21 de julho um vídeo que captura uma ação bem-humorada envolvendo policiais, impedindo visitantes com conta no Facebook de olhar para obras contendo nu em um museu flamengo.

Sobre o caso, o Facebook deu uma resposta similar a do impasse canadense. A empresa se reuniu com representantes da agência de turismo e afirmou que, pela política atual, pinturas não seriam barradas de circular na rede social em publicações comuns; apenas quando vinculadas a anúncios.

fonte:nexojornal

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