Casa de Capiba é alvo de invasões, roubos e ocupação irregular na Zona Norte do Recife

Processo de tombamento do imóvel segue para o Conselho Estadual de Preservação do Patrimônio Cultural

Foto: Nando Chiapetta/DP (Foto: Nando Chiapetta/DP)
Foto: Nando Chiapetta/DP
Depois de ser arrombada em janeiro, a casa onde o compositor Lourenço da Fonseca Barbosa, o Capiba, viveu por 50 anos, tem sido novamente alvo de vandalismo nas últimas semanas. A residência, no número 369 da Rua Barão de Itamaracá, no Espinheiro, está desocupada desde outubro de 2017, quando o governador Paulo Câmara assinou decreto considerando o imóvel como de interesse público e desapropriando a edificação. De acordo com moradores e funcionários de prédios vizinhos, a construção vem sendo invadida com frequência.

Parte do telhado foi arrancada, assim como janelas e portões. Do tapume que protege a entrada, é possível ver vassouras, lixo, carcaça de um fogão e marmitas com comida no interior. Moradores do edifício Barão de Itamaracá, ao lado da residência de Capiba, flagraram roupas estendidas em um varal improvisado no quintal. Há seis meses, o imóvel havia sido alvo de depredação. Portões foram levados e tentaram ainda, sem sucesso, roubar um dos refletores de um prédio da rua.

“A gente vê a movimentação diariamente aqui, principalmente à noite. Uma grade da parte de trás da casa foi uma das últimas coisas a levarem. É uma pena o que tem acontecido. Além disso, gera uma sensação de insegurança grande para toda a rua”, disse o funcionário de um prédio da via que não quis se identificar.

Em outubro de 2017, a Secretaria de Cultura de Pernambuco acatou o pedido de tombamento da construção, que foi pedido pelo advogado Antônio Campos. A solicitação encontra-se na Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe), seguindo o trâmite de bens em processo de tombamento. Se o resultado for positivo, será a 12ª casa de uma personalidade pernambucana a ser protegida por lei. As outras residências são as de Luiz Gonzaga, José Rufino, Joaquim Nabuco, Cardeal Arcoverde, Arthur Lundgren, Badia, Oliveira Lima, Manuel Bandeira,Gilberto Freyre, além de duas propriedades do conselheiro João Alfredo (uma em Itamaracá e outra no bairro da Madalena).

“Após a finalização do parecer técnico (não existe prazo definido para essa fase), o processo segue para o Conselho Estadual de Preservação do Patrimônio Cultural, que decide pelo tombamento ou não do referido imóvel. Enquanto o processo de tombamento está em curso, o equipamento fica protegido como se tombado já estivesse. Não existe portanto uma previsão de projeto para o imóvel”, informou a Fundarpe, por nota. O órgão não respondeu sobre como a segurança da casa é feita.

O acervo de Capiba, que foi inventariado pela fundação, é de propriedade da viúva do compositor, Zezita Barbosa, de 86 anos. Ela morou sozinha na casa do Espinheiro por dez anos, mas se mudou para Surubim, terra natal do marido, em 2008. O preço de mercado da casa do Espinheiro é de aproximadamente R$ 2 milhões, mas o valor ainda não foi repassado a ela.

“Se fosse para não fazer nada na casa, não deveriam ter desapropriado. Era meu complemento de renda. O valor do aluguel servia para manter a escolinha de música que tenho”, lamentou a viúva.

Zezita contou ainda que um carteiro responsável por guardar as correspondências que chegam à casa do Espinheiro relata para ela a situação da residência. “Ele me contou que estão depenando. Levaram as janelas, grades. Não quero nem ver”, afirmou. Em relação ao acervo de Capiba, ela disse que aguarda um museu ser criado para ele. “Não tenho como manter um museu nem peço nada a ninguém. Fico esperando”, disse.
dp

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