Reportagem reduz a distância para a polícia chegar aos assassinos de Marielle

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A perícia policial já levantou a direção dos tiros

Pedro do Coutto

Reportagem de Chico Otávio, em O Globo deste sábado, sem dúvida vai reduzir a distância que a polícia terá de percorrer para chegar e revelar os assassinos de Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes. A matéria tem base na narrativa feita à Polícia pela assessora que sobreviveu ao duplo assassinato que comoveu o país. Ela apontou que em torno de dez dias antes do crime um homem, em tom áspero, num ponto de ônibus, perguntou a uma outra assessora se ela trabalhava no Gabinete de Marielle Franco.

Essa outra servidora não deixa de ser um mistério ou uma personagem capaz de identificar o autor da pergunta se confrontada naturalmente com sua imagem.

PRECAUÇÃO – Como a sobrevivente da tragédia do Estácio não teve seu nome revelado, por medida de segurança, a versão atribuída por ela a uma outra mulher dá margem a que se suponha que aquela interpelada asperamente possa até ser ela própria.  Seria uma medida de precaução, no momento em que a assessora oculta decide revelar mais um aspecto envolvendo o crime.

Há sem dúvida, um clima de mistério cujo conteúdo será desvendado através das investigações. Mistério que se torna mais denso na medida em que, como revelou Chico Otávio, a mulher que sobreviveu à tragédia postou no Facebook a seguinte mensagem: “Estou viva. Mas a alma oca. A carne, ainda trêmula, não suporta a dor que serpenteia por dentro, num loopping sem fim”. Existe, a meu ver, uma controvérsia a ser esclarecida. Se a assessora não tem, por segurança, seu nome revelado, como se explica a postagem de texto seu no Facebook?

IDENTIFICAÇÃO – Não quero dizer com isso nada além do que uma pergunta lógica, a qual poderá ser traduzida de forma esclarecedora. Afinal de contas, mensagens das redes sociais têm autores e autoras. E uma das coisas pelas quais se empenham todos aqueles que se propõe a combater as “fake news”, é cobrar sempre a plena identificação da autoria das matérias divulgadas. Pode ser que a assessora tenha recorrido a um pseudônimo.

De qualquer forma. foi aberto um caminho para sua identificação. O sigilo quanto a seu nome decorre de uma exigência policial para não atrapalhar as investigações, incluindo a hipótese de ameaças para que não venha a testemunhar.

NOTÍCIA FALSA – Citei a expressão “fake news”, mas apenas para me referir à necessidade de os autores de mensagens se identificarem, conforme determina a Constituição, que proíbe o anonimato. No caso, de fato não se trata de notícia falsa, mas de mensagem que se encontra nas telas dos computadores e tem conteúdo verdadeiro. Trata-se de uma manifestação de pesar pela morte da ativista assassinada.

As falsificações de textos não são apenas de agora. Nas eleições de 1965, para o governo da Guanabara um grupo de jornalistas elaborou um documento falso de apoio do Partido Comunista ao então candidato Negrão de Lima. A maior parte dos autores não está mais neste mundo, porém ainda restam outros que se encontram em atividade. Em manchete de primeira página, O Globo denunciou a farsa. O texto falsificado não convenceu ninguém. Foi demascarado e Negrão de Lima derrotou Flexa Ribeiro por maioria absoluta.

INVESTIGAÇÃO – Na minha opinião, como os peixes fora d’água, as “fake news” não resistem a mais de 24 horas. Mas esta é outra questão. O que a reportagem causou foi o encurtamento da distância que separa a polícia dos assassinos. O exame das balas que ceifaram duas vidas demoraria mais tempo para chegar aos criminosos. A munição foi adquirida em 2006 e sua série inclui uma grande chacina em São Paulo ocorrida em 2015. A distância, como se vê é grande entre o fato e o ato. E ato hediondo.

A reportagem de O Globo não só encurta o caminho, mas também ilumina o rastro dos assassinos.

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