Há semelhança entre a execução de Marielle e a morte de Edson Luís, em 1968?

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Em 68, Edson Luís foi morto com um tiro no peito

Por Carlos Newton

Há quem procure semelhanças entre a execução da vereadora Marielle Franco e a morte do estudante Edson Luís Souto, de 18 anos, em 28 de março de 1968, com um tiro à queima-roupa no peito, disparado pelo aspirante Aloísio Raposo, da PM, durante um protesto no restaurante estudantil do Calabouço contra o aumento do preço da refeição. A reação popular foi impressionante. Durante o velório do estudante, houve confronto com policiais e depois passaram a ocorrer manifestações diárias no centro da cidade, todas reprimidas com violência, até culminar na missa da Igreja da Candelária em 4 de abril, quando soldados a cavalo investiram contra os manifestantes, ferindo estudantes, padres, jornalistas e meros assistentes.

A morte de Edson Luís foi o estopim do acirramento da reação ao golpe militar, e três meses depois, a 26 de junho de 1968, ocorreu a chamada Passeata dos Cem Mil, que contou com a participação de artistas, intelectuais e outros personagens da sociedade brasileira.

HÁ SEMELHANÇAS – Realmente, pode-se dizer que há algumas semelhanças entre os dois fatos, mas é preciso destacar que as diferenças são gritantes, porque hoje o país vive em democracia plena. Em 1968, arbitrariedades, torturas e execuções de presos políticos já manchavam o regime militar.

Depois da morte de Edson Luís, o clima se radicalizou e o movimento estudantil passou a comandar um número cada vez maior de protestos. No dia 18 de junho, uma passeata que terminou no Palácio da Cultura resultou na prisão do líder estudantil Jean Marc von der Weid.

No dia seguinte, os estudantes se reuniram na Universidade Federal do Rio de Janeiro para organizar novos protestos e pedir a libertação de Jean e de outros alunos presos. Mas o resultado foi a detenção de cerca de 300 manifestantes, ao final da assembleia.

ACIRRAMENTO – No dia 21 de junho, uma manifestação estudantil em frente ao edifício do Jornal do Brasil, na Avenida Rio Branco, foi reprimida com violência e o conflito terminou com três mortos, dezenas de feridos e mais de mil prisões, e a data ficou conhecida como “Sexta-feira sangrenta”.

Diante da repercussão negativa do episódio, o comando militar acabou permitindo uma manifestação estudantil, marcada para o dia 26 de junho, quando 10 mil policiais estariam prontos para entrar em ação, caso fosse necessário. E então ocorreu a histórica Passeata dos Cem Mil, que muitos pensam ter ocorrido pacificamente, mas também houve muitas prisões.

Agora, a situação é muito diferente, porque os governos federal e estadual nada têm a ver com a execução de Marielle Franco e Anderson Gomes. A única semelhança, além da revolta da população, é a tentativa de utilização política da morte da vereadora.

COBERTURA EXAGERADA – Sabemos que a imprensa vive para alarmar, a notícia boa para vender jornal é a tragédia, jamais a chegada de Papai Noite. Mesmo assim, não há a menor dúvida de que a cobertura do assassinato de Marielle foi muito exagerada não apenas nos jornais, rádios e TVs, mas também na internet.

Um levantamento feito pela Fundação Getulio Vargas mostrou que o debate do caso nas redes sociais foi influenciado pela presença de 1.833 robôs. Esta massiva utilização política da web exibe o oportunismo dos grupos políticos que tentam se aproveitar da tragédia para colher resultados político-eleitorais.

O mais interessante é que a pesquisa da FGV revela que tanto a direita quanto a esquerda usaram esses artifícios despudoradamente, demonstrando que o cinismo e a desfaçatez continuam a comandar a política brasileira.

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