LIVRARIA BRANDÃO “SEBO” – O FIM DE UMA ERA

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  Rogerio José Brandao – Escritor, poeta e médico oncologista

Hoje, sábado 02 de março de 2018, a LIVRARIA BRANDÃO SEBO fechou suas portas encerrando mais de 50 anos dedicados a cultura, a compra e venda de livros usados, muitos destes raros e bastante cobiçados por estudiosos, colecionadores, pesquisadores, bibliófilos e grandes bibliotecários.
Nos anos 60 iniciava O SEBO suas atividades na Rua do Hospício 314, onde hoje existe a lojas Americanas. Nesta mesma rua, funcionava a escola de Engenharia da UFPE, a faculdade de Economia e, garbosa pelo belo prédio que ainda hoje ocupa na praça Adolfo Cirne, a faculdade de Direito da UFPE.
No SEBO do Brandão como era conhecido, fundado e comandado até hoje pelo meu pai EURICO BEZERRA BRANDÃO, era comum o encontro de grandes intelectuais , estudiosos e pesquisadores. Passar uma tarde no SEBO era garantia de uma boa tarde cultural. A conversa era sempre calorosa e grandes debates ocorriam entre seus frequentadores, opinando, discutindo, ensinando, citando e criando cultura.
Muitos estudantes pobres procuravam no SEBO seus livros necessários, comprado a preços muito mais módicos. Para os mais necessitados, meu pai emprestava os livros a custo zero, pois ele sentia-se feliz em ver um jovem estudando e aprendendo.
Brandão, como meu pai era conhecido, tornou-se um dos mais respeitados livreiros deste país e convidado em muitas ocasiões para falar sobre livros em Universidades e até mesmo no Palácio Itamarati. Autodidata, saiu do ensino fundamental e tornou-se um dos maiores especialista em livros do Brasil, capaz de ler e entender o inglês, o alemão, o italiano e o espanhol.
Na minha infância, ví grandes professores, juristas famosos, ministros de estado, artistas, governadores, deputados e senadores da república em seus corredores. Um destes, na época governador do estado do Maranhão, veio a ser presidente deste país ( José Sarney ). Nos anos 70 o SEBO mudou-se para a rua Sete de Setembro, ocupando a loja quatro do Edifício Mandacarú. Nesta época, a convite do governador baiano LUIS VIANA FILHO, o SEBO se expandiu para Salvador e depois para São Paulo. Da rua Sete de Setembro nos anos 80 ocupou uma grande loja na rua da Matriz 22: eram dois andares com livros do chão ao teto, nas paredes e corredores.
A LIVRARIA BRANDÃO SEBO nos anos 80 era a maior, a melhor e a mais sortida livraria de livros usados no Brasil, conhecida até mesmo por grandes universidades norte americanas e européias, onde houve um período de vendas frequentes, antes da proibição de exportação de livros raros pelo governo Federal. Muitos pesquisadores norteamericanos conhecidos como “brasilianistas”, visitavam o SEBO.
Com o crescimento das grandes cidades e as modernidades da vida começa o declínio das livrarias. Se deslocar ao centro da cidade enfrentando um transito cada vez pior, procurar um local para estacionar o carro, o aumento da violência entre outros fatores foram fazendo minguar os clientes. A facilidade de fazer uma cópia fotostática ( Xerox ) era grande. Muitos deixavam de comprar livros e copiavam apenas as páginas que interessava. Depois veio a internet e junto com a internet a grande ferramenta do Google. Esta ferramenta praticamente acabou as grandes enciclopédias com a Barsa e a Delta-Larousse e a Britanica, Como competir com a atualização on line ? Os livros de anuários ficaram obsoletos. Depois da internet, ficou fácil realizar grandes pesquisas, ler e imprimir apenas os tópicos de interesse.
Deste esta época, as livrarias de cultura e as grandes bibliotecas vem minguando.
Mas para o SEBO, o tiro de misericórdia veio com o SEBO virtual. Hoje, qualquer um pode oferecer seus livros pelo preço que entender nas estantes virtuais. O interessado na mesma hora vê uma grande oferta do livro pretendido e grande diferença de preços. Quem entende do mercado e sabe o valor da mercadoria, pede mais. Outros, oferecem o mesmo livro por uma ninharia qualquer. É natural que o cliente procure o menor preço. O serviço do bom sebista foi ficando desnecessário.
Ainda hoje sou um rato de livrarias. Nasci e cresci no meio de livros. Na casa de meus pais em Olinda havia um grande depósito de livros. Eram mais de 200 mil volumes, isto mesmo, não é exagero : 200 mil volumes. Cresci com amor aos livros e não me acostumo com a leitura digital. Gosto de pegar no livro, folhear as páginas, sentir o cheiro gostoso deles.
Hoje para mim é um dia triste. Olhar para os corredores vazios, não ver livros naquele grande salão dói na alma.
Os mais jovens não terão recordação do SEBO, mas tenho certeza que todo e qualquer intelectual dos anos 60, 70, 80 e 90 sentirão saudades da LIVRARIA BRANDÃO SEBO, marco cultural do nosso Recife que hoje encerra suas portas.

*Rogerio Jose Brandao – escritor ,poeta e médico oncologista

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