Por José Paulo Cavalcanti Filho – É escritor, membro da Academia Pernambucana de Letras e um dos maiores conhecedores da obra de Fernando Pessoa. Integrou a Comissão da Verdade
… a crença daqueles valentões se funda numa lenda falsa. De que o Golpe Militar de 1964 era imune à corrupção. Os fatos provam o contrário…
Em Brasília, a Câmara dos Deputados foi invadida por jovens que protestavam contra a corrupção. E pediam a volta dos militares. Já, nas ruas do Rio, outros jovens agrediam, fisicamente, jornalistas que estavam exercendo suas profissões. Inclusive ferindo o repórter Caco Barcellos, da Globo. Para a deputada Jandira Feghali (dilmista do PC do B), os de Brasília seriam “intolerantes e fascistas”. Só esqueceu de dizer o mesmo daqueles do Rio. Sua terra, gente sua. Estes, para ela, estariam só praticando um protesto legítimo. Que nada, minha senhora. São é dois grupos muitos parecidos. Um à direita, outro à esquerda. Filhos, ambos, da mesma intolerância. Do mesmo passado. Do mesmo autoritarismo travestido em democracia.
A graça no caso de Brasília, se isso for graça, é que a crença daqueles valentões se funda numa lenda falsa. De que o Golpe Militar de 1964 era imune à corrupção. Os fatos provam o contrário. Já em 1968, ainda tenra nossa tão feia ditadura, tivemos uma Comissão Geral de Investigações – CGI (Decreto–Lei 359) criada, precisamente, para promover o confisco dos bens adquiridos, de maneira ilícita, no exercício de função pública. Foram tantos casos, envolvendo militares e gente ligada a eles, que era mesmo necessário fazer algo.
…A evidência de corrupção ampla, nesse período, não para por aí. No início de 1969, começava a nascer a Operação Bandeirantes – OBAN. Pensada para ser o braço clandestino dos órgãos de segurança. E responsável por boa parte das torturas e desaparecimentos forçados que se deram, na época.
Esta CGI tinha poderes (art. 38) para apurar quaisquer atos de corrupção. Sem que se conheça, hoje, as investigações realizadas. Por terem sido incineradas (é o que se diz). Pena. Mas foram muitas. Até porque, caso diferente fosse, e nem razão haveria para criar uma CGI assim. Aqui mesmo, no Recife, acabou famoso um general, diretor de banco do governo, que enriqueceu apostando com um empresário que seus empréstimos seriam liberados. A juros simbólicos. Eram sempre. E ligeiro. Caixinha, obrigado.
A evidência de corrupção ampla, nesse período, não para por aí. No início de 1969, começava a nascer a Operação Bandeirantes – OBAN. Pensada para ser o braço clandestino dos órgãos de segurança. E responsável por boa parte das torturas e desaparecimentos forçados que se deram, na época. O ato (informal) que celebrou sua criação deu-se em 01/7/69. Contando, inclusive, com a presença de figuras importantes das elites políticas e empresários de São Paulo.
Naquele tempo, a ideia de combater a corrupção se limitava a punir só os que recebiam grana. Sem atingir empreiteiros ou militares que lhes davam cobertura. Talvez porque fossem, todos, velhos companheiros da Ditadura. Hoje é diferente.