POR  ROBERTA  ARAUJO

É surreal viver em um país onde políticos denunciados por corrupção e empresários sonegadores lideram protestos contra a corrupção.
É surreal viver em um país em que pelo menos um terço dos integrantes já definidos da comissão especial que vai analisar o processo de impeachment da presidente eleita é alvo de investigações e acusações criminais no Supremo Tribunal Federal, dentre elas, corrupção, lavagem de dinheiro, crimes eleitorais e contra a Lei de Licitações.
É surreal viver em um país em que o presidente da Câmara dos Deputados que conduz os trabalhos do plenário que decidirá sobre o impeachment da presidente eleita é um denunciado por corrupção e lavagem de dinheiro.
É surreal ver o PMDB, com todo direito que lhe assiste , romper com o governo e determinar que todos os peemedebistas entreguem os seus cargos no governo, menos Michel Temer, o presidente do próprio partido e que ocupa o maior dos cargos, o de vice presidente da República.
É surreal bradar a cassação de um mandado presidencial sob a alegação de pedaladas fiscais e silenciar diante do mandato de dezesseis governadores que adotaram em seus governos a mesma prática.
Desejar que Dilma Rousseff não seja mais a presidente do Brasil, embora eleita para isso e desejar ver o PT fora das esferas do poder é um legitimo direito que assiste a qualquer cidadão.
Mas acreditar que isso é em nome da ética, da moralidade e do combate à corrupção no Brasil revela um tipo de fundamentalismo no qual o antipetismo encerra qualquer possibilidade de filtro ou questionamento crítico.
O impeachment de Dilma Rousseff não é uma vitória das ruas.
É o espelho, o eco e a vitória dos interesses políticos que se beneficiam desse processo. E sob o comando destes, o discurso de ética e justiça se torna vazio.