Procuradoria considera que lobista não quer delação e cancela encontro

Coordenação das investigações cancela encontro depois de denúncias do advogado de defesa do lobista Mauro Marcondes Machado, para quem seu cliente teria sido chantageado para fazer delação premiada
por Hylda Cavalcanti, da RBA
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Podval critica as pressões da PF sobre seu cliente: “Isso é chantagem e uma grande injustiça”

Brasília – A Procuradoria Regional da República da 1ª Região (PRR1), que coordena a investigação da Operação Zelotes (responsável pela apuração de fraudes no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, Carf), evitou se pronunciar oficialmente, mas hoje (20) foi cancelada reunião que iria acertar a proposta de delação ao lobista Mauro Marcondes Machado. Ontem, o advogado de Machado, Roberto Podval, denunciou que houve constrangimento e chantagem por parte da Polícia Federal ao seu cliente para que aderisse ao sistema de delação premiada e disse não ter dúvidas de que estava havendo um movimento político no sentido de atingir, nestas apurações, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Com o recuo das iniciativas da Procuradoria, as notícias que circulam nos gabinetes do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF 1) são de que alguns desembargadores se reuniram  para conversar sobre os últimos passos dados sobre o caso e vão pedir à corregedoria do tribunal uma avaliação sobre se a conduta do juiz responsável pela condução da Zelotes tem apresentado exageros.

O juiz Vallisney de Souza, titular da 10ª Vara Federal em Brasília, determinou na última segunda-feira (18) o encaminhamento da esposa de Machado, Regina, sócia dele, para o presídio da Papuda, no Distrito Federal. Souza já é o terceiro magistrado a assumir a operação. Ele é o titular da Vara, mas estava à disposição do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e não tinha previsão de retornar ao cargo. Foi reconvocado em caráter de emergência, no final do ano passado, para evitar novos conflitos observados entre os seus antecessores na condução do caso.

Regina Machado estava detida em regime domiciliar e, por ter feito recentemente uma cirurgia nas pernas, encontra-se em cadeira de rodas. Conforme informações de parlamentares que acompanham o desenrolar das investigações da Zelotes e advogados, ela foi encaminhada na segunda-feira ao presídio da Papuda, em ordem considerada excessiva.

Segundo a denúncia de Podval, o delegado Marlon Oliveira Cajado, da Polícia Federal, procurou Mauro Marcondes Machado e disse que se ele não concordasse em fazer a delação premiada sua esposa seria encaminhada ao presídio. “Isso é chantagem e uma grande injustiça”, afirmou ontem o advogado à RBA. O delegado evitou dar declarações a respeito, e a PRR1 limitou-se a informar que a reunião foi cancelada depois do pronunciamento do advogado de defesa do réu, quando ficou claro que não há interesse por parte dele de participar da delação premiada.

Corrupção ativa

Marcondes Machado e sua esposa são réus em ação penal que apura o suposto envolvimento do casal em crimes de corrupção ativa, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Eles são acusados de intermediar contatos entre empresas e conselheiros do Carf para reduzir e até mesmo retirar multas e penalidades aplicadas pelo órgão a essas empresas.

O que mais tem chamado a atenção da mídia nos últimos dias é a investigação de uma suspeita prática de lobby supostamente dirigida a obter, no Congresso, a aprovação de medidas provisórias, dentre as quais, uma que assegurou incentivos fiscais a empresas do setor automobilístico.

Ficou constatado que uma das firmas, pertencente a Machado, tinha na sua lista de fornecedores uma empresa de Luís Cláudio Lula da Silva (filho de Lula), a LFT Marketing Esportivo, embora, em diversos depoimentos, o filho do ex-presidente tenha dito ter comprovado serviços prestados em sua área de atuação e nada ter a ver com outros clientes e fornecedores de Marcondes Machado.

Na tarde de ontem, o advogado de defesa do casal entrou com um pedido no TRF 1 para solicitar a recondução de Regina Machado ao sistema de prisão domiciliar – pelas circunstâncias em que sua detenção na Papuda foi autorizada e pelo seu estado de saúde. Uma audiência do juiz da 10ª Vara com os dois réus está programada para os próximos dias, conforme informações do próprio tribunal

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