FASCÍNIO

   Por CELIA  LABANCA
Figuras furtivas entram e saem sem que lhes conheçam os lados. À noite, ao fechar das portas, e descer-lhes as de ferro somente um pensamento, o de estar de volta na manhã seguinte. Os interesses, entre eles os curiosos, dão sempre a quem os espera o prazer de sabê-los existir. A discriminação de nada, de ninguém, nem de temas, vive. As cores, as capas, os tipos enfeitam e trazem à realidade o sonho de quem os criou, e os de quem os quer conhecer. O prenuncio de gôndolas superlotadas, jazem em silêncio. As assinaturas, os dias de festa, coroam o que jamais foi ou será uma ilha, – Assim, estou falando das livrarias e dos livreiros, em seus fantásticos mundos fantásticos.

Hoje elas, eles, os escritores e escritoras estão sós. São como se deles houvesse acabado o fascínio. Como se fossem dispensáveis. Ou quase desumanos. Estão constantemente sendo trocados pelas “fast” máquinas de informação. Perderam o toque afetuoso de quem os admirou, e a poesia dos que se gabaram por guarda-lhes e conhecer-lhes os pensamentos, um dia. E, por se aperceberem assim, sofrendo um processo profundo de desamparo, a literatura está ficando mais pobre se não fossem os best-sellers midiáticos, apesar da compulsão por escrever, por si dizer e desnudar, características de cada um de nós. – Por sorte, para quem tem sorte, sobram os jornais, e os espaços virtuais, sendo que rápidos, pouco sólidos; imateriais diante das histórias sem capas, e sem a requisição de serem preservadas. – Perde-se então, dia a dia o hábito da leitura. Aquela que acontecia como um ritual de prazer. E, as livrarias e seus livreiros estão indo juntos com quem escreve de encontro ao sol que lhes derreterá as asas.

Estou a escrever mais uma história que se chamará “DE FRENTE PARA O SOL”, só não sei se, e quando vou publicá-la. Ou se a tecnologia a liquefará antes. – Por tudo, por vezes, penso em imitar minha personagem. Ela é uma encanecida escritora que respondendo a entrevista de uma boa repórter, afirma que deixará de escrever em breve porque está triste com o calar velado das livrarias, e da imposição das superficialidades. – Estamos as duas, no limite. Penso que há mais.

Ela viveu um tempo em que o escritor, ou escritora, tinham como definição e função inventarem vidas, lidarem com as incertezas, trabalharem com o inusitado, discorrerem sobre amores excêntricos, e com a compreensão para além dos locais estáveis em que todos aprendiam. Eles e elas hoje, se não têm o apoio dos interesses financeiros e seus agentes, não se deixarão conhecer, muito menos no futuro, como se conheceu os grandes e os clássicos antes de todas as mídias.

“É uma pena que isso ocorra, pois somente por meio da leitura de bons livros é que nos tornamos de fato bem informados, e formados enquanto cidadãos. Mesmo que a música, o cinema, o teatro e as outras modalidades artísticas contribuam para o engrandecimento do espírito humano, somente por meio da boa leitura é que podemos de fato alicerçar nossos conhecimentos e vivenciar as mais profundas emoções. – Em outras palavras, podemos afirmar que fora do livro não há civilização que se sustente nem indivíduo que se complete”, como disse com todas as propriedades do mundo, Jorge Fernando dos Santos, em seu estudo “Os Escritores e seus Livros”.

fonte:face/folhape

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