Hora de mudar, por Moreira Franco

 

Moreira Franco

Há coisa de dois anos, ouvi de um diplomata escandinavo a seguinte constatação sobre o Brasil: “Você precisa morar aqui por um tempo para entender que falta de dinheiro não é o problema.” Essa frase foi a primeira coisa que me veio à mente ao ler, há alguns dias, a notícia no GLOBO sobre o relatório de técnicos do Tesouro Nacional que apontava um desperdício de R$ 21,9 bilhões no ensino fundamental no país somente entre 2007 e 2009.

Trata-se de 40% de tudo o que foi investido em educação básica no período, uma dinheirama que deixou de se converter em serviço ao contribuinte devido a problemas de gestão.

O caso é emblemático para entender a onda de protestos que varreu o país no mês de junho. O movimento deixou clara a percepção da sociedade de que os governos no país estão dando as costas a dois princípios constitucionais que deveriam integrar o DNA de qualquer administrador e administração públicos: o da moralidade e o da eficiência.

A resposta do poder público às ruas passa necessariamente por restabelecer esses princípios na forma de gerir bens e serviços que vão do ensino e da saúde aos aeroportos.

O perfil dos manifestantes e de suas reivindicações, frequente e erroneamente apontadas como “difusas”, fica claro num cruzamento de dados de pesquisas de opinião feito por Renato Meirelles, do Instituto Datapopular.

A análise mostra duas coisas importantíssimas: primeiro, que a maior parte dos manifestantes pertence à classe média. Muitos só recentemente passaram a ter emprego formal e, portanto, a recolher impostos na fonte. Isso muda a relação do cidadão com o Estado. Ele passa a ver os serviços públicos não mais como uma caridade, mas como uma contrapartida.

O cidadão exige que esses bens e serviços sejam entregues sem corrupção. E a corrupção necessariamente encarece os serviços públicos, roubando-lhes eficiência. As ruas sabem, instintivamente, o que a Constituição preconiza.

 

oglobo

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