O Inverno Que Se Queria Primavera
Poema de Luciana Miranda
Quando não ouvi o barulho da porta abrir
tive frio
era noite quente de verão,
mesmo assim, tive frio
Ao deitar-me busquei as mantas de lã
Enrolei-me nelas para fugir aos espaços vazios
FRIO, FRIO e mais FRIO
Outro dia, quando não mais ouvia as tantas coisas bobas que me dizia
Tive frio
Ao caminhar pelas ruas sem o teu braço passeando nos meus quadris
Tive frio
Na outra semana, quando fui tomada por uma vontade louca
de encostar o meu rosto no teu
Tive frio
No mês seguinte, te procurei sedenta e fogosa nos meus sonhos
E só encontrei o frio
Tomada pela crescente angústia que me acompanhava
Pus-me a indagar o porquê do frio?
Então na esquina Atlântica ouvi, entre gritos mudos e soluços contidos, a voz do poeta
Queria eu; uma briga de namorados
queria o teu mimo, o teu beijo, as tuas mãos
Queria chamar-te gordo e ver a tua zanga velhaca
Queria os teus belos olhos,
grandes e castanhos devorando os meus
Queria a gargalhada cúmplice antes de dormir
e o contentamento de acordar ao teu lado
Queria eu; a sublime exaustão de mais uma noite de amor
Mas, você já não estava lá…
Desde então, tornei-me “piquena” refém do INVERNO
O calor me abandonou e tive frio
Luciana Miranda
Sou uma paulista bem mineira. Atualmente, vivo em Lisboa às voltas com uma tese de doutorado em História. Gosto de escrever livremente como forma de catarse.
fonte:benfazeja