Expulsar maus policiais é um imperativo legal (Editorial)

O Globo

São inaceitáveis os indicadores de corrupção na Polícia Militar do Rio. Ali se abriga uma banda podre ativa, responsável por registros frequentes de bandeamento de agentes públicos para os desvãos do crime.

Por isso, a Pesquisa Nacional de Vitimização, cujos números foram revelados domingo pelo “Extra”, não chega a surpreender, mas a informação de que, entre todas as PMs do país, a do Estado do Rio é a mais corrupta torna ainda mais assustador o perfil da corporação fluminense.

De acordo com o levantamento, a PM do Rio responde por 30,2% dos casos de extorsão praticados no país por policiais fardados — mais do que todas as corporações da Região Sudeste juntas. Em razão da prática contumaz desse e outros tipos de crime, a polícia fluminense (Militar e Civil) já expulsou de seus quadros, entre 2008 e 2012, quase 1.500 agentes.

Esta é a face mais visível da banda podre, aquela que é alcançada pela lei; a outra, a que não mostra a cara, é ainda mais preocupante, porque continua operando de dentro das instituições em favor da criminalidade. São agentes duplos.

 

 

Punir práticas — para dizer o mínimo — desabonadoras de maus policiais (principalmente aqueles que, travestidos de servidores públicos, não passam de bandidos com estabilidade no emprego público) não pode deixar de ser o padrão.

É equivocada a avaliação de que a expulsão de PMs no Rio fortaleceria as milícias. Não se trata de relação de causa e efeito: não é o afastamento de policiais corruptos que alimenta o crescimento dos grupos paramilitares fluminenses.

Agentes públicos de segurança não se bandeiam para o crime porque são punidos, mas porque as corporações dão abrigo a marginais. Consequência de uma política de pessoal inadequada, na qual se misturam arregimentação pouco criteriosa, tíbia formação de quadros, leniência com casos evidentes de desvios de conduta e corporativismo.

Ao contrário, quanto mais punições, melhor. Não é deixando de expulsar que o estado preservará o mau policial de ser aliciado pelo crime organizado.

Na verdade, as polícias precisam se blindar contra o ingresso de falsos agentes que, atuando dentro delas, cevam a banda podre. Isso pressupõe uma ampla reestruturação das polícias, com uma depuração ainda mais profunda (expulsão, afastamento, punições exemplares sem contemporizações) dos respectivos quadros. Medidas como estas não têm nada a ver com o fortalecimento das milícias.

A expansão dos grupos paramilitares é outro aspecto da questão. Essas quadrilhas, chefiadas por policiais ou ex-policiais, se fortalecem no vácuo deixado pelo Estado nas comunidades por elas dominadas.

Com ou sem agentes públicos em suas fileiras, expulsos ou não, são quadrilhas que precisam ser combatidas, e seus integrantes, presos e levados à Justiça — como manda a lei.

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