Aumenta greve de fome de presos em Guantánamo

Detentos reclamam de fotos e documentos confiscados, além de provocação religiosa

 


Foto divulgada pelo Departamento de Defesa dos EUA mostra um detido caminhando por uma área interna em Guantánamo
Foto: MICHELLE SHEPHARD / AFP
Foto divulgada pelo Departamento de Defesa dos EUA mostra um detido caminhando por uma área interna em Guantánamo MICHELLE SHEPHARD / AFP

 Alvo de críticas da comunidade internacional por manter detentos há anos sem perspectivas de julgamentos, transferência e liberdade, a prisão americana na Base de Guantánamo, em Cuba, volta à berlinda com uma greve de fome dos internos, que vem crescendo nos últimos dias. Não são os primeiros protestos do tipo na cadeia criada em 2002 para manter longe dos EUA os suspeitos de terrorismo – perseguidos na guerra antiterror iniciada pelo presidente George W. Bush após o 11 de Setembro. A nova greve de fome começou há seis semanas, mas desde sexta-feira passada o número de grevistas subiu de 14 para 24.

As versões sobre a causa da manifestação divergem: o chefe do Comando Sul do Exército dos EUA (que controla a base em Guantánamo), general John Kelly, afirma que os detentos estão, como de praxe, “decepcionados” com o fracasso do governo americano em fechar a prisão – a maioria está ali desde a construção da penitenciária, e sem acusações concretas. Mas um grupo de 50 advogados que representam os prisioneiros diz que eles tiveram fotos e correspondências confiscadas após revisões nas celas, ocasiões em que os soldados também teriam desrespeitado exemplares do Alcorão pertencentes aos presos. Os advogados enviaram uma carta ao secretário da Defesa, Chuck Hagel, pedindo sua intervenção para o fim da greve.

– O Alcorão não foi desrespeitado nem abusado de maneira alguma – declarou Kelly perante a Comissão de Serviços Armados do Congresso, em Washington.

O general garante que apenas os intérpretes, que são muçulmanos, têm acesso ao Alcorão em Guantánamo.

Enquanto isso, dizem os advogados, alguns presos já perderam até 15 quilos, e têm sido obrigados por médicos da prisão a ingerir líquidos por meio de tubos no nariz e na laringe. John Kelly insiste na teoria da frustração:

– Acho que eles querem mexer no vespeiro, chamar a atenção da imprensa para sua situação – afirmou.

Promessa de Obama deu esperanças

O general afirma que o anúncio do presidente Barack Obama, em 2009, de que a prisão seria fechada em até um ano, deu esperanças aos presos. Não foi o que aconteceu. Na prática, o fim de Guantánamo ainda parece distante. Em janeiro, o governo americano transferiu seu enviado especial para o fechamento da prisão em Cuba – e sem indicar um substituto para o posto. O embaixador Daniel Fried passou a ser coordenador do setor de sanções no Departamento de Estado, afastando ainda mais a possibilidade de que Obama cumprisse o que foi uma de suas principais promessas de campanha no primeiro mandato. Reeleito, o presidente não voltou a tocar no tema.

Hoje, Guantánamo abriga 166 presos e um gasto exorbitante: manter a prisão custa US$ 114 milhões anuais aos cofres públicos americanos – uma média de US$ 690 mil por detento. O valor representa 20 vezes o gasto do departamento penitenciário dos EUA com um preso em cadeias de segurança máxima no país. Esta semana, o Comando Sul do Exército solicitou mais US$ 49 milhões para a construção de uma nova prisão na Baía de Guantánamo, na falta de uma definição sobre o fechamento da que já existe ali há 11 anos.

fonte:globo

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