por: Flávio Chaves
Um dos gêneros mais apreciados pelo universo feminino, a crônica marcou época em nosso País. Poetas de primeira grandeza como Cecília Meireles também escreveram crônicas, atemporais, podemos dizer, porque o amor, sempre presente nas suas composições, é substância viva, errante e, como tal, apenas migra de um para outro coração, num processo de contínuas mudanças.
Não podemos esquecer que a crônica é um poema em prosa, segundo definição dada pela maioria dos escritores que dominam esse segmento da literatura, arte que se completa ao dar forma a outras espécies que se materializam pela palavra, como é o caso do teatro e do cinema.
As escritoras Laura Areias e Elizabeth Siqueira sempre brindando Pernambuco com o que há de melhor na literatura feminina do Estado, onde oferece uma antologia que reúne textos das melhores cronistas pernambucanas da atualidade, cujo poder criativo amadureceu em contato direto com as várias representações da nossa cultura.
Aliás, a presença da mulher pernambucana já era notável no tempo do Brasil Império. O pensamento político avançado e a intrepidez amalgamaram seu caráter, envolvendo-as com uma aura mítica ainda hoje presente no ato de dominar a escrita, como testemunho da herança cultural transmitida de geração a geração.
Mas a sua bravura podemos dizer que é inigualável, e assim sempre foi em várias ocasiões importantes, desde o tempo das Capitanias Hereditárias, de que são exemplo as heroínas de Tejucupapo; dona Olegarinha que, do seu casarão à beira do Capibaribe, na chamada Freguesia do Poço da Panela, facilitava a fuga dos escravos pelo rio; Ana Paes, senhora de engenho, em Casa Forte, à época do domínio holandês; Maria do Espírito Santo Arcoverde, a índia que salvou a vida de Jerônimo de Albuquerque (aqui chegado com o donatário Duarte Coelho Pereira) atingido por uma flechada dada por um índio e que, com ele, teve uma prole numerosa ainda hoje com descendente. Enfim, todas elas se transformaram em personagens da nossa História. Sem esquecer o pioneirismo de mulheres como Marthade Hollanda, a primeira pernambucana a votar.
A mestiçagem talhou o perfil feminino da pernambucana, adornando não apenas seus traços físicos, como deixando uma marca indelével em sua atividade intelectual e em seu espírito obstinado que sempre deseja fazer ou dar o melhor de si. Pernambuco é, de fato, um celeiro de boas profissionais liberais, de operárias, artesãs, artistas plásticas, poetas, cronistas, escritoras, todas elas, porém, não se descuram, jamais, do seu papel de guardiãs da família, a sentinela avançada da unidade brasileira.
(Artigo publicado no Caderno Viver do Diario de Pernambuco, em 21 de abril de 2008)