Terceira Reflexão da Semana da Missão do Escritor: quando a escrita se torna destino e entrega
A palavra escrita é o fio tênue que sustenta a teia da humanidade. É por meio dela que atravessamos o tempo, tocamos outras consciências, reinventamos sonhos e resistimos ao esquecimento. Nesta Semana do Escritor, mais do que celebrar nomes consagrados, dedicamo?nos à essência: ao impulso que leva alguém a escolher o silêncio, cortar o ruído, enveredar pela linguagem.
Em tempos de efemeridade, a escrita é resistência. Enquanto eles apressam o mundo, o escritor recusa a pressa. Enquanto eles diluem o sentido em slogans, ele devolve complexidade. Enquanto eles inspiram consensos fáceis, ele pergunta. É no espaço entre os signos que mora a inquietude: quem escreve vai além do repertório; transgride, remodela, rasga e refaz.
Mas essa vocação exige cuidados — sustento institucional, liberdade de expressão, leitura cultivada, editoração séria e remuneração justa. Não basta reverenciar o escritor como mito: é preciso integrá?lo à vida cultural, educacional e econômica da sociedade. Precisamos leitoras que revisitem velhos clássicos e descubram novos horizontes; escolas que fomentem narrativas plurais; governos que reconheçam a literatura como política pública.
Durante os próximos dias, esta casa abrirá espaço para diálogos com vozes múltiplas: o escritor que escreve na periferia, a poeta que traduz sua ancestralidade, o cronista que registra o inusitado cotidiano, o autor emergente que busca visibilidade. Será uma semana de encontro, entre letras, entre desafios, entre futuro.
Que este tempo não passe como comemoração automática. Que ele se grave como um pacto: conosco, com o leitor, com a vida. Que o escritor sinta, em cada aceno, que não está sozinho. E que, por meio da escrita, possamos manter acesa a chama da reflexão, da dignidade e da memória.
Porque, no fim, escrever é um ato de fé no humano, e essa fé sempre será necessária.

Por Flávio Chaves – Jornalista, poeta, escritor e membro da Academia Pernambucana de Letras. Foi Delegado Federal/Minc – Há dias que não são dias, são apenas intervalos vazios entre o que fomos e o que tememos ser. E há um tipo de ausência que não se anuncia com estardalhaço, mas chega de mansinho, como o vento frio que entra pela fresta da janela e vai roubando a alma do corpo aos poucos. Assim é o dia em que não se sabe de ti. Um dia que não traz teu nome na boca do mundo, que não deixa vestígio teu no céu da manhã, que não permite à memória o consolo de um sinal. Um dia desses é como morrer à míngua, sem saber, sem entender, sem poder fazer nada além de esperar.
Entre o ruído do mundo e o silêncio da palavra, existe um lugar raro, quase secreto, onde poucos ousam permanecer. Esse lugar não se encontra nos mapas, tampouco nas agendas ruidosas do cotidiano; ele habita a interioridade de um ser atravessado por inquietação: o escritor. Um ser convocado por uma força que não se explica, mas que pulsa como destino inevitável. O escritor não escreve para preencher o tempo ocioso, nem para alimentar a voracidade das redes. Ele escreve porque há em sua alma uma urgência que transborda o silêncio e reclama linguagem. Uma necessidade visceral de dar voz ao que muitos sentem, mas não sabem nomear. E essa revelação, essa alquimia entre o sentir e o dizer, só se realiza atravessando uma solidão que não é ocasional, mas ontológica. Uma solidão que não exclui, mas funda. A solidão sagrada do escritor.