Músicos e foliões do Boi Tolo se sentaram no chão para achar vendedora ambulante e reunir família no Centro
Uma catarse coletiva atingiu o bloco quando a vendedora adentrou o cordão acompanhada pelo marido e encontrou o filho. O momento, provavelmente, foi mais um daqueles que entram para história do carnaval de rua do Rio.
Aliviada após encontrar o pequeno Rafael, Ágata, que ganha R$ 70 por um dia inteiro de trabalho vendendo as bebidas que fazem a onda dos foliões, contou que a criança estava com uma pulseira de identificação mas acabou arrebentando. Ao lado dela, o filho de uma vizinha que Ágata levou para o bloco ostentava a pulseirinha.
— Em um segundo ele sumiu. Senti desespero e agora felicidade. Eu fiquei impressionada com a humildade e a simplicidade desse bloco. Eles pararam de tocar para me encontrar — disse.
Moradora de um conjunto do Minha Casa, minha vida na Zona Norte, a vida de Ágata, 28 anos, não é fácil. A vendedora trabalha catando latinhas para tentar sustentar os cinco filhos.
Carnaval da ‘ilusão’
Em meio ao cotidiano difícil e uma vida de privações, não conseguiu dar café da manhã para Rafael antes de ir para o bloco.
— Estou tentando fazer um dinheiro para dar algo para ele comer. O pão aqui na cidade é muito caro. Se eu vender pelo menos 20 reais já posso usar esse dinheiro, mas ele é abatido dos R$ 70 que ganho por dia — explica.
Entre o anúncio de uma promoção e outra, Ágata contou ao GLOBO que está com o “condomínio” que é obrigada a pagar ao tráfico atrasado e corre o risco de ser despejada de seu apartamento, para onde se mudou ao deixar o barraco de madeira que ocupava.
— O carnaval é sempre uma ilusão. Meus filhos acabam sofrendo por eu ficar longe trabalhando. Onde eu moro, cada vez mais as mães abandonam seus filhos, mas eu estou lutando. Hoje as coisas parecem impossíveis, mas uma hora elas mudam. Vivo por meus filhos e para mantê-los protegidos — conta ela, que só estudou até a sexta série.
Enquanto a mãe concedia a entrevista, Rafael olhava hipnotizado os carros alegóricos que cruzavam a Presidente Vargas.
— Eu quero andar neles! — exclamou, perguntando se podia para vê-los no desfile.
— Cadê a sua mãe?