Em rota de colisão com herdeiro, ex-presidente vê situação legal em risco
Por AFP
O Parlamento do Equador decidiu nesta quinta-feira permitir que o ex-presidente Rafael Correa seja investigado por suposto envolvimento no sequestro de um político opositor na Colômbia.
A Assembleia Nacional declarou “improcedente” o pedido de uma juíza para bloquear a investigação, com o aval de 83 dos 137 deputados. Os congressistas consideraram que Correa, que vive na Bélgica, já não exerce a função de presidente e não tem mais as prerrogativas previstas na Constituição para o chefe de Estado.
No Twitter, Correa declarou que “uma maioria parlamentar ignorou a Constituição e a Justiça” e afirmou que sua imunidade só poderia ser derrubada por 92 votos.
A Procuradoria informou na segunda-feira ter pedido à Justiça autorização para investigar Correa no caso do suposto sequestro de Fernando Balda, após o surgimento de indícios do envolvimento do ex-presidente. Correa já depôs de maneira voluntária sobre o caso no dia 24 de maio, no consulado equatoriano em Bruxelas.
Balda, ex-deputado do Partido Sociedade Patriótica (PSP), afirma que estava em Bogotá em 2012 quando cinco pessoas o colocaram a força em um automóvel, que a polícia colombiana interceptou frustrando o sequestro.
Correa integrou a triunfante onda de esquerda que sacudiu a América Latina no início do século. Ao lado do venezuelano Hugo Chávez, liderou um governo popular que reformou o Estado, desafiou os Estados Unidos e colocou o setor mais rico e dos veículos privados de comunicação entre a cruz e a espada. Foi implacável com adversários, sendo acusado por muitos de usar um caráter autoritário.
Há um ano, ninguém acreditaria que sua sorte mudaria pelas mãos de seu ex-vice-presidente e agora inimigo político: o presidente Lenín Moreno, promotor de uma consulta que enterrou grande parte do legado correísta. Na véspera da volta à Bélgica, em fevereiro (após liderar uma campanha derrotada contra um referendo de Moreno que limitou a reeleição), Correa se defendeu das suspeitas em torno da gestão das vendas antecipadas de petróleo — uma estratégia que permitiu ao Estado receber bilhões de dólares em troca da entrega posterior de petróleo, principalmente para a China, que se tornou o maior credor do país.