Numa terra cujos bairros são batizados de João de Deus, Cosme e Damião, Dom Avelar e em homenagens aos santos Paulo, José, Gonçalo e Luzia, além de ser banhado por um rio que se chama São Francisco, cidadãos recorreram ao argumento do estado laico para solicitar, junto ao Ministério Público Federal, a remoção de duas imagens instaladas no Velho Chico.
Mãe D’Água (representação de Iemanjá) e Nego D’Água, inauguradas há três anos, foram considerados um desrespeito à separação de estado e religião, uma vez que as águas do rio pertencem à União, pelos pastores José Kenaidy e Jorge Ancelmo. “Discutimos internamente com pastores a questão da legalidade em relação ao código civil, do ponto de vista da laicidade e da questão religiosa. O grupo acabou não querendo entrar com a ação, então eu e o Ancelmo, na condição de cidadãos, sem qualquer identificação profissional, entramos com um pedido de posicionamento junto ao MPF, porque consideramos o caso um agravo – uma ação feita, inclusive, sem licença ambiental”, declarou o professor, teólogo e pastor Kenaidy. “A partir da resposta do MPF, que vai ter que deferir positivamente, falaremos da questão da limpeza do esgoto, a posteriori. Só Juazeiro, lança uma quantidade impensável de dejetos no leito do rio. O argumento de tirar as estátuas, também servirá para impedir o lançamento do esgoto. Sou de origem judaica, se a questão persistir, vou colocar também uma menorah no rio, afinal os direitos são iguais”, completou.
De acordo com a assessoria de comunicação do Ministério Público Federal, a solicitação foi oficialmente apresentada no dia 6 de novembro de 2015 e chegou na segunda-feira (9) ao setor jurídico do órgão, que determinará o procurador responsável pelo caso.
As esculturas são alvos de controvérsias desde a instalação e voltaram à pauta depois que, numa sessão plenária do dia 22 de setembro de 2015, o vereador Zenildo do Alto do Cocar (PSB) declarou: “Depois que colocaram a estátua, nunca mais choveu em Petrolina”. Nas semanas seguintes, ele declarou à imprensa da cidade que respeita a imagem, mas tem preocupações ambientais com o local onde ela foi disposta. O presidente da União dos Pastores de Petrolina (Upepe), Clayton Antônio, se disse contrário à iniciativa em entrevistas a rádios petrolinenses.
No Brasil, há outros exemplos de locais ligados à União e que possuem cunho religioso em algum aspecto. O Parque Nacional de São Joaquim, em Santa Catarina, por exemplo, carrega a denominação católica até mesmo no nome. Quando o assunto são imagens de cunho religioso expostas ao público em território da União cita-se o Parque Nacional da Tijuca, no Setor da Serra da Carioca, e é apresentado como um dos principais cartões-postais do país, é o Cristo Redentor, no Rio de Janeiro – até o momento, não há solicitações para remoção da obra, que integra a lista de proteção do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) junto ao Ministério Público Federal do Rio de Janeiro. Seria ele o próximo?
curiosamente.diariodepernambuco