No tempo do smartphone. Por CLAUDEMIR GOMES

Por CLAUDEMIR GOMES

Em contagem regressiva para o início das disputas da Copa do Catar, as discussões nas variadas mesas redondas – nas rádios e em diversos canais de televisão – se tornam mais acaloradas. Alguns debatedores assumem postura de donos da verdade, esquecendo que estamos na era do smartphone, onde o cidadão comum é alimentado, o tempo todo, incessantemente, com um volume de informações absurdo, para que ele forme sua própria opinião, sobre o assunto em pauta.

Na Copa de 1958, primeira a ser conquistada pela Seleção Brasileira, o rádio era o grande veículo de comunicação. Narradores, comentaristas e repórteres eram os olhos dos torcedores brasileiros que se amontoavam para acompanhar as transmissões dos jogos. Em 1962, quando o Brasil conquistou o bicampeonato na Copa do Chile, a ordem era a mesma: ouvir os jogos pelo rádio. Numa das partidas da Seleção Canarinha, estava com meu pai, na Praça da República, ouvindo o jogo ao lado de um carro de som, da Rádio Jornal do Commercio, equipado com grandes cornetas. Cenário que não me sai da memória.

Detalhe: desde a Copa de 1938, na Itália, que o torcedor brasileiro acompanha as transmissões dos Mundiais de Futebol pelo rádio. De forma bastante precária, evidentemente. Tempos nos quais os comentaristas eram os donos da verdade, e tinham autoridade para formar a opinião dos ouvintes.

A partir dos anos 60, com a implantação da luz elétrica vinda de Paulo Afonso, fomos brindados com a chegada da televisão. O Mundial do México, em 1970, quando Pelé & Cia. conquistaram o tri, foi o primeiro a ser transmitido, ao vivo e em cores, pela televisão brasileira. Um deleite para os torcedores. Farra inesquecível em plena juventude.

A conquista do tri motivou as empresas de comunicação a investirem maciçamente no produto futebol. Em 1974, pela primeira vez na história do jornalismo pernambucano, o Diário de Pernambuco enviou um jornalista para fazer a cobertura da Copa da Alemanha: seu editor de esportes, o conceituado Adonias de Moura. Ivan Lima e José Santana também integraram o pool forma pelos Diários e Emissoras Associados.

O sucesso da cobertura levou Adonias de Moura a um projeto ousado. Em 1978, no Mundial da Argentina, com a benção do diretor, Antônio Camelo, Adonias formou uma equipe composta por quatro profissionais: Ele (Adonias), Valdir Coutinho e os fotógrafos, Francisco Silva e Maurício Coutinho.

Tive o privilégio de ser escalado para cobrir as Copas de 1982; 86; 90; 94 e o Torneio da França (Copa das Confederações), criado para testar a estrutura do Mundial de 98.

Neste período vivenciamos a era do telex, passamos pelo fax, que para o jornalismo impresso teve vida curta, e chegamos a era da informática quando a internet passou a ser de domínio público a partir dos anos 90. O Mundial de 94, nos Estados Unidos, foi o primeiro que trabalhos com um laptop numa cobertura internacional para o Diário de Pernambuco.

O Mundial da Espanha, em 1982, foi o primeiro a ofertar, aos jornalistas credenciados, um banco de dados. O fato representava os primeiros passos da informatização. IBM, Kodak e Cannon eram as empresas que integravam o consórcio de investidores no futebol. Consórcio este iniciado pela Adidas e Coca-Cola.

O futebol crescia a passos largos como produto, fato que atraia, cada vez mais, empresas de comunicação. A ordem era pegar uma fatia do bolo cujo crescimento era imensurável. Em 1994, o número de emissoras de rádio, televisão e jornais inscritos para a cobertura do Mundial dos Estados Unidos, foi tão grande que a FIFA criou uma Central de Mídia, onde reunia as emissoras de rádio e televisão. Poucos profissionais tinham assentos assegurados nos estádios. De Pernambuco, apenas dois profissionais da Rádio Jornal do Commercio, cuja equipe, a época, fora comandada pelo radialista Adherval Barros, acompanharam, dos estádios, todos os jogos da campanha do tetra brasileiro.

Na condição de enviado especial do DP, também estive presente a todas as partidas, participando de todas as coletivas de imprensa, e com passe livre para as zonas mistas.

Alguns profissionais vão aos Mundiais sem serem credenciados pela FIFA. Fazem uma cobertura ambiental, no país sede, mas não têm acesso aos Centro de Imprensa e outros espaços estritamente reservados aos que foram credenciados pela entidade que rege o futebol mundial.

No Mundial do México, em 1986, o Diário de Pernambuco inovou com a presença do chargista, Humberto Araújo, fato inédito que agregou para a consolidação do veículo pernambucano, como um parceiro da Seleção Brasileira.

O avanço das comunicações proporcionou a maioria das empresas de comunicação a realização de um trabalho de transmissão das atuais edições da Copa do Mundo. Evidentemente que, somente poucos profissionais estão presentes na sede dos jogos. A grande maioria está on-line, recebendo as mesmas informações que você recebe pelo seu smartphone.

Em síntese: a bola agora está com você. Portanto, forme a sua opinião.