Pedro do Coutto
Assassinos a serviço do imundo crime organizado mataram Dom Phillips e Bruno Pereira, e apunhalaram também o país, deixando para sempre um rastro de sangue na história brasileira. A repercussão internacional está sendo enorme. O governo Bolsonaro ficou muito mal nas narrativas nos principais jornais do mundo, conforme a TV Globo revelou.
O crime organizado inclui a pesca ilegal, o garimpo fora da lei, o desmatamento criminoso e, de uns tempos para cá, a ação do narcotrafico na região, estando provavelmente envolvido no triste episódio, dada a violência do crime contra o jornalista ingles e o indigenista. No O Globo, a reportagem é de Carla Rocha, Bruno Alfano e Alfredo Mergulhão. Na Folha de S. Paulo, a matéria é de Vinicius Sassine, César Feitosa e Rosiene Carvalho.
REPERCUSSÃO – O impacto do episódio foi enorme e está se desenvolvendo na proporção do crime praticado. Aumentando a repercussão negativa para o Brasil, Matheus Teixeira, Folha de S. Paulo de quinta-feira, destaca a frase do presidente Bolsonaro, afirmando que Dom Phillips era “mal visto na Amazônia”. A afirmação causa perplexidade porque, mesmo que fosse verdadeira, isso não seria motivo para que alguém fosse assassinado.
O presidente da República, desde o início do roteiro sinistro desenhado pelos assassinos, não focalizou diretamente a questão, dizendo que a área era de risco. No fundo, deixa o governo ainda pior, uma vez que comprova que ele não tem o domínio de uma área de fronteira com diversos países e, portanto, configura-se como rota aberta na selva verde para as ações do garimpo ilegal e do narcotráfico que se expande na região.
A Polícia Federal informou que, no caso da defesa do meio ambiente na Amazônia, luta contra a falta de recursos humanos e financeiros. Essa é uma parte do resultado do desmonte feito nos quadros do Ibama e da Funai, atitudes misteriosas, hoje menos ocultas por parte do Ministério do Meio Ambiente e também do Ministério da Economia, a quem cabe a execução do orçamento federal.
OMISSÃO – As consequências já estão se fazendo sentir e vão repercutir ainda mais nos próximos passos do governo Jair Bolsonaro. Algumas perguntas devem ser feitas: por que o silêncio quanto ao desmatamento ? Por que a nuvem sobre o garimpo ilegal? Por que a sombra sobre a pescaria contra a lei? Por que a omissão ? As respostas aguardadas são possíveis indicadoras de um estranho sistema.
Com o assassinato de Dom Phillips e Bruno Pereira, o governo desabou ainda mais na opinião pública e, portanto, junto ao eleitorado brasileiro. Também no O Globo, reportagem de Lucas Altino destaca o clima de ameaça constante que o crime organizado desfecha contra os servidores públicos do governo que atuam na defesa da floresta e que não negociaram as suas consciências.
SUBSTITUIÇÃO DE BRAGA NETTO – Reportagem no O Globo é de Jussara Soares revela a insegurança que está envolvendo a campanha de Bolsonaro à reeleição. Isso porque não tem lógica aparente a substituição de alguém já convidado a ser candidato a vice pela ex-ministra da Agricultura que quer disputar o Senado nas eleições de 2 de outubro.
Julia Chaib e Matheus Teixeira, Folha de S. Paulo, em reportagem de grande destaque, apontam que o Centrão entrou em campo para que Tereza Cristina seja a vice de Bolsonaro, enquanto o próprio presidente da República disse a deputados do bloco que tanto Tereza Cristina quanto Braga Netto estão “cotadíssimos” para formar a sua chapa. A afirmação confirma a intenção de substituir o general Braga Netto, pois este já se encontrava convidado para ser o companheiro de chapa do presidente em seu projeto de reeleição.
Na minha opinião, quando em política surge um movimento para substituir uma candidatura majoritária, o candidato objeto da pressão tem que se afastar do cargo, pois já foi sinalizada a rejeição e a insatisfação quanto ao fato deste adicionar ou não votos. Não há dúvida, portanto, de que o noticiário de ontem deixou muito claro que Braga Netto deverá renunciar à indicação em nome de uma unidade partidária que ainda não existe.
ENCONTRO – Num texto marcado pela cordialidade, o ministro Paulo Sérgio Nogueira encaminhou novo ofício ao ministro Edson Fachin, presidente do TSE, agora convidando-o para um encontro sobre a participação das Forças Armadas no acompanhamento das eleições, incluindo a computação dos votos e a votação praticada nas urnas eletrônicas.
O ministro da Defesa, reportagem no O Globo de Bela Megale, reportagem na Folha de S. Paulo de Matheus Vargas, fala em diálogo e a presença no encontro das equipes técnicas do Tribunal Superior Eleitoral e das Forças Armadas. Sem dúvida alguma, o general mudou de tom e o encontro, penso, será de grande importância para o processo político e eleitoral brasileiro.
UNIVERSO DIGITAL – Júlia Barbon, Folha de S. Paulo, com base em pesquisa do Instituto Quaest, informa que o presidente Jair Bolsonaro é o primeiro colocado em matéria de popularidade no universo digital, seguido de perto por Lula. Em terceiro, aparece Ciro Gomes. A pesquisa atribui a Bolsonaro um índice de 33% contra 29% de Lula da Silva.
Porém, não explica sobre que números absolutos incidem os percentuais de 33% e 29%. Além disso, a popularidade digital decorre da ação de mensagens permanentes e da ação de influenciadores. Entretanto, a margem de vantagem de Bolsonaro sobre Lula nas telas dos computadores não corresponde a mesma situação apontada pela pesquisa mais recente do Datafolha, comprovando que os tais influenciadores, na prática, não influenciam tanto assim.
GREVE – O Estado de S. Paulo, edição de quarta-feira, informa que em assembleia realizada na segunda-feira, em Brasília, os funcionários do Banco Central decidiram entrar em greve por reajuste salarial que compense as perdas inflacionárias acumuladas. Os servidores do Bacen haviam entrado em greve há cerca de um mês pelo mesmo motivo.
Há cerca de dez dias, suspenderam o movimento, possivelmente em face de alguma promessa colocada na mesa das negociações. Mas, ao que tudo indica, não houve avanço concreto ou então os funcionários do Banco Central resolveram manter a greve até que fossem mantidas as suas reivindicações.