Publicado no portal da ABRAJI
“Você sabe como acaba um X-9.” A ameaça, que usa termo adotado por grupos criminosos e milícias, é uma das que têm sido feitas ao jornalista Guilherme Felitti nos últimos dias. Ele é alvo de uma profusão de ataques crescentes desde que uma reportagem de O Globo mostrou um levantamento feito por ele sobre o movimento dos canais de Youtube da extrema direita de se livrar ou esconder vídeos que atacam o Supremo Tribunal Federal (STF) e seus ministros e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Desde 2018, Felitti, que é pesquisador e programador, analisa os números e os motivos da retirada de conteúdo desses canais na plataforma. Já foram apagados ou ocultados mais de 200 vídeos desde que o STF apertou o cerco contra desinformação sobre eleições e ataques à Corte.
Felitti é fundador do estúdio de data analytics Novelo Data, de São Paulo. Trabalha com “tradução” de dados para interpretar cenários da realidade. O monitoramento dos canais de direita e extrema direita que apoiam o presidente Jair Bolsonaro (PL) começou ainda na campanha eleitoral de 2018. “É um trabalho que nunca trouxe um centavo para a Novelo. Eu o faço por uma questão de cidadania”, contou o jornalista à Abraji.
A reportagem “Youtube e bolsonaristas começam a remover vídeos com desinformação sobre fraude nas eleições”, de 23.mar.2022, foi o estopim para a onda de ataques e ameaças sofridas pelo jornalista e que não pararam de crescer.
“X-9 é uma terminologia de máfia de milícias. Eles classificam análise de dados com terminologia de milícia”, afirmou Felitti, para quem o monitoramento incomoda esses canais porque atrapalha suas narrativas de vitória no embate contra o STF. Apagar esses vídeos de ataques às instituições tem sido uma prática crescente com a proximidade das eleições.
Felitti registrou as ameaças na polícia e buscou ajuda de advogados para responsabilizar os agressores. Também aumentou a segurança digital da Novelo Data. Além de ataques, ofensas, produção de vídeos com inverdades sobre o jornalista, influenciadores e seus apoiadores expuseram dados de Felitti e sua empresa, numa prática conhecida como doxing.
A Abraji repudia e vê com preocupação esse tipo de agressão coordenada contra um jornalista de dados cujo único intuito é fazer o monitoramento sobre a retirada de vídeos do YouTube. Tal monitoramento é feito com informações públicas da plataforma. A divulgação dos dados coletados e analisados pela Novelo são de interesse público e ajudam a entender como as redes sociais têm sido usadas na disputa de narrativas políticas do país. A Abraji se solidariza com Felitti e espera que as autoridades encarregadas da investigação sejam céleres em apurar o caso e responsabilizar os agressores.