Rodolfo Costa
Gazeta do Povo
O presidente Jair Bolsonaro e o ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, estão debruçados sobre o desafio de construir a candidatura à reeleição ao Palácio do Planalto que atenda tanto a seus apoiadores mais ideológicos como aos aliados do Centrão. Para que o próprio Bolsonaro assegure uma aliança maior para sua candidatura em 2022, ele terá de acomodar políticos de diferentes linhas nos lançamentos de chapas para o Senado, governos estaduais e Câmara dos Deputados.
Eleito em 2018 na onda do antipetismo e com a defesa de bandeiras como combate à corrupção e defesa de valores conservadores, Bolsonaro ajudou a eleger uma bancada mais ideológica no Congresso, sobretudo na Câmara.
ACOMODAÇÃO – Para as eleições de 2022, ele não planeja abandonar esses aliados, mas sabe que precisará conciliar a acomodação de espaços e apoio de sua base “raiz” com nomes do Centrão, grupo comandado por Ciro Nogueira, presidente do PP.
O encaixe do “DNA” eleitoral entre os aliados ideológicos e o Centrão passa por diferentes variáveis políticas, a começar pela escolha do partido ao qual o presidente da República vai se filiar. Bolsonaro, hoje, está dividido entre o PP e o PL (este, outro partido do Centrão, presidido pelo ex-deputado Valdemar Costa Neto). O PTB “corre por fora” no atual cenário político-eleitoral.
A estratégia eleitoral também passa pela costura de acordos para as chapas para o Senado e governos estaduais. Nesse ponto, as conversas estão mais avançadas.
ESTRATÉGIA – Bolsonaro pediu a Nogueira respaldo para a indicação de candidatos. A estratégia do presidente é fazer uma bancada maior no Senado. Já o chefe da Casa Civil ficou com maior responsabilidade para construir candidaturas aos governos estaduais que apoiem a chapa presidencial ou, no mínimo, permaneçam neutras na corrida eleitoral.
É com essa simbiose entre candidaturas de senadores e governadores que Bolsonaro e Nogueira esperam construir uma coalizão eleitoral entre seus apoiadores de “raiz” e o Centrão.
O grande problema, contudo, está na definição das candidaturas a deputados federais. A possível filiação do presidente ao PP ou PL já provoca disputas por espaços entre os “ideológicos” e políticos do centrão. Isso pode levar alguns deputados do PSL que apoiam Bolsonaro a não o acompanharem para o partido que o presidente escolher.
FILIAÇÃO EM NOVEMBRO – Aliados de Bolsonaro acreditam que ele definirá seu futuro partidário até o próximo mês. “Eu acho que, com uma certa vantagem para PL [filiá-lo], ele deve definir isso já em novembro”, diz um deputado aliado do presidente.
Parlamentares da base “raiz” que conversaram com o presidente nas últimas duas semanas afirmam ter ouvido dele que ele ainda não se decidiu entre o PP e o PL. “Eu conversei com ele [Bolsonaro] por bastante tempo. Não está definido o partido, mas tudo indica que fica entre um ou outro. Não vai sair desses dois”, garante outro aliado.
Filiado ao PP ou PL, Bolsonaro poderá receber mais apoios de senadores, governadores e deputados. Também terá a seu dispor recursos dos fundos partidário e eleitoral e minutos nos horários eleitorais de rádio e TV. Mesmo tendo sido eleito em 2018 como o “antipolítico” e sem esses recursos, o presidente está convencido de que o cenário para 2022 é outro e de que precisará de aliados para vencer na corrida eleitoral.
FAZER DIFERENÇA – Mas mesmo a escolha por PP ou PL pode fazer a diferença para a estratégia eleitoral de Bolsonaro de unir o Centrão e a base “raiz”. É um cálculo político que o presidente terá de fazer com cautela sob o risco de deixar aliados conservadores para trás ou de perder o apoio de algumas lideranças de centro.
Caso Bolsonaro se filie ao PP, hipótese considerada a mais provável pela maioria das fontes consultadas pela reportagem, dois cenários podem vir a ocorrer: a debandada de lideranças da legenda e a filiação de aliados conservadores a outros partidos. Alguns membros do partido são contrários à filiação do presidente e ameaçam deixar a sigla, sobretudo os de estados das regiões Norte e Nordeste.
Já os aliados mais ideológicos dizem que o PP é um partido “muito grande” para acomodar todos. “Esses partidos grandes já estão com as chapas praticamente montadas. A turma não deixa para depois de amanhã e essa demora dele [Bolsonaro] em escolher o partido atrapalha e vai complicando esse jogo de espaço. Para os que têm bastante voto, como o Eduardo [Bolsonaro], não é um problema. Mas para tantos outros, é”, explica um deputado do PSL.
NOME NO SANTINHO” – O temor de não ter espaço no PP e se filiar em um partido diferente de Bolsonaro aflige principalmente os que fizeram entre 30 mil e 40 mil votos nas eleições de 2018. “Estão praticamente todos perdidos com o que vão fazer. Todos querem estar no mesmo partido do presidente. Tem aquela coisa de carregar a foto do presidente no santinho [propaganda impressa com informações com o nome do candidato e seu número]”, explica um deputado conservador aliado.
“Ter mesmo número [de urna] do presidente traria todo um efeito muito positivo. Caso contrário, o eleitor fica confuso: ‘Mas o presidente tem um número e você tem outro’. Estão todos preocupados”, complementa o parlamentar. O deputado pondera que o próprio presidente poderia ser impactado. “Essa sinergia não é só de cima para baixo, também ocorre de baixo para cima. Nós, deputados, também puxamos votos para ele”, diz.