Andréia Sadi
G1 Política
O procurador-geral da República, Augusto Aras, vai recorrer ao ministro Celso de Mello, relator do inquérito “Moro x Bolsonaro” no Supremo Tribunal Federal (STF), para que o vídeo ministerial da reunião do dia 22 de abril não seja transcrito na íntegra.
A referida reunião ministerial foi mencionada em depoimento pelo ex-ministro da Justiça, Sergio Moro, no inquérito que investiga a suposta interferência política do presidente Jair Bolsonaro na Polícia Federal (PF). O depoimento de Moro foi colhido pela investigação dias após o ex-ministro deixar o cargo.
RISCOS À SOBERANIA – Para Aras, a transcrição integral é “desnecessária” e pode impor riscos à “soberania nacional”, caso sejam confirmados trechos da reunião com informações sobre países como a China. Assim, Aras quer a transcrição apenas dos diálogos entre Moro e Bolsonaro.
O ministro Celso de Mello determinou que a PF faça uma degravação (ou seja, a transcrição) do conteúdo do vídeo. Celso de Mello decidirá, só depois, se irá divulgar o conteúdo na íntegra ou parcialmente.
Aras defende que só a parte sobre Moro e Bolsonaro seja divulgada ao público. Na avaliação do PGR, só esta parte interessa para fins da investigação.
PERÍCIA E DENÚNCIA – Aras também tem dito a interlocutores que ainda não descartou pedir uma perícia no celular de Moro. Quando o ex-ministro depôs à PF, dados de conversas entre ele e Bolsonaro foram extraídos. Mas Aras pode pedir outras informações do celular do ex-ministro.
Sobre a possibilidade, quando perguntado, Moro responde a aliados que “não tem nada a esconder” e que a divulgação de mensagens de outros ministros e autoridades, como do próprio Aras, poderão vir a público, por pedido da PGR. E emenda que ficará “ruim para o governo”.
Moro também não acredita, segundo o blog apurou, em uma denúncia contra Bolsonaro por parte de Aras.
DENUNCIAR OU ARQUIVAR – O procurador-geral da República, como o blog publicou semana passada, repete que a decisão de denunciar ou arquivar só será tomada ao fim da investigação, o que é óbvio.
O problema para a PGR, segundo aliados de Moro, é que o inquérito ganha mais tempo, por exemplo, com novas provas e elementos, como o pedido para transcrever o vídeo da reunião.
Procuradores admitem, nos bastidores, que a transcrição “adia” decisões de Aras. Para aliados de Moro, Aras gostaria de encerrar rapidamente o caso, mas as decisões de Celso de Mello dão mais tempo para investigações detalhadas.