Novo presidente da Funai, Marcelo Xavier da Silva, é delegado da Polícia Federal com fortes ligações com o agronegócio
Lideranças indígenas e especialistas que trabalham junto a cerca de um milhão de integrantes de populações tribais no Brasil estão espantados e desconcertados com a escolha de um policial federal, com fortes ligações com o agronegócio, para comandar a Fundação Nacional do Índio (Funai).
A escolha de Marcelo Xavier da Silva como novo presidente da Funai está alinhada às políticas indigenistas do governo do presidente de extrema-direita, Jair Bolsonaro, para desenvolver áreas indígenas que incluem algumas das reservas mais protegidas da Amazônia. Para críticos, a medida vai efetivamente colocar o agronegócio no comando das questões indígenas.
“Estamos preocupados com a possibilidade de que as políticas indigenistas não sejam devidamente realizadas, considerando a história desse presidente”, apontou Andrea Prado, presidente do grupo Indigenistas Associados (INA).
A preocupação é ecoada por um ex-funcionário da Funai, que não quis se identificar. “Ele não tem preparação técnica, ele não é um especialista em questões indígenas. Tenho medo dele”, disse a fonte, em entrevista ao jornalGuardian.
Além de agradar o agronegócio, a linha de atuação de Xavier da Silva vai na contramão do antigo presidente da entidade, o general Franklimberg de Freitas, que deixou o cargo em junho. O motivo oficial da saída de Freitas não foi informado, mas teria ocorrido por pressão da bancada ruralista.
Xavier da Silva é delegado da Polícia Federal com laços com o agronegócio. Em 2017, ele atuou em uma controversa Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) contra a Funai e o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). A comissão foi criada pela bancada ruralista no Congresso.
Também em 2017, atuando como ouvidor da Funai, Xavier da Silva pediu à Polícia Federal para que fossem tomadas “providências persecutórias” contra indígenas e ONGs no Mato Grosso do Sul.
Xavier da Silva já foi acusado por Franklimberg de Freitas de “odiar” os indígenas, além de enxergar a Funai como um “obstáculo ao desenvolvimento nacional”. Já a coordenadora executiva da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), Dinaman Tuxá, destacou a “longa história de luta contra os povos indígenas” de Xavier da Silva, apontando que ele “sempre foi a favor dos agricultores”.
No entanto, apesar de revoltar indígenas e especialistas na área, o posicionamento de Xavier da Silva deixa-o próximo ao governo Bolsonaro. O presidente, tentou, em diferentes oportunidades, fazer mudanças na política de demarcação de terras indígenas, além de mudar o ministério ao qual a Funai responde. No entanto, Bolsonaro falhou nas tentativas, sendo, inclusive, repreendido pelo Congresso Nacional pela inconstitucionalidade dos seus atos.
Na última sexta-feira, 19, no mesmo dia no qual o nome de Xavier da Silva foi publicado no Diário Oficial da União (DOU), Bolsonaro voltou a criticar assuntos relacionados aos indígenas. O alvo da vez foi a forma como a imprensa internacional trata os índios.
“Você quer que os povos indígenas continuem como homens pré-históricos, sem acesso à tecnologia, à ciência, à informação e às maravilhas da modernidade. […] Os indígenas querem trabalhar, querem produzir e não podem. Eles vivem isolados em suas áreas como homens das cavernas. O que a maioria da imprensa estrangeira faz ao Brasil e contra esses seres humanos é um crime”, afirmou Bolsonaro, que tem suas políticas ambientais constantemente criticadas pela imprensa internacional.
Fonte:
The Guardian-Bolsonaro pick for Funai agency horrifies indigenous leaders