Esposa da cantora Ludmilla está grávida
Em um mundo onde a maternidade é frequentemente romantizada e reduzida a estereótipos, uma manchete recente chamou a atenção: Brunna Gonçalves, mulher da cantora Ludmilla, foi intitulada “mãe do ano” por um meio de comunicação. O motivo? Aos seis meses de gravidez, ela desfilará na Sapucaí durante o Carnaval. Mas será que essa escolha reflete a realidade das mães brasileiras ou apenas reforça um jornalismo que privilegia o espetáculo em detrimento da substância?
Brunna Gonçalves não é a primeira mulher grávida a desfilar no Carnaval, e certamente não será a última. Então, por que ela foi elevada ao status de “mãe do ano”? Será por sua barriga de seis meses ou por sua relação com a famosa cantora Ludmilla? A escolha parece menos sobre a maternidade e mais sobre a visibilidade midiática. Enquanto isso, mães anônimas enfrentam desafios reais, como Lexa, que luta pela vida de seu bebê em uma batalha silenciosa e heroica. A maternidade, que deveria ser celebrada em sua pluralidade, acaba sendo reduzida a um espetáculo midiático, onde o que importa não é o ato de cuidar, mas sim o de aparecer.
O título “mãe do ano” soa como hipocrisia; como uma piada de mau gosto quando pensamos nas milhares de mulheres que trabalham incansavelmente, muitas vezes sozinhas, para sustentar seus filhos. A professora que dá aula para 25 crianças com um barrigão de seis meses, a empregada doméstica que carrega sacolas pesadas até o nono mês, a mãe solteira que mal tem tempo para se cuidar – essas são as verdadeiras mães do ano. Mas, claro, elas não desfilam na Sapucaí nem têm milhões de seguidores no Instagram. Enquanto isso, a mídia escolhe celebrar uma gravidez que, embora bonita e válida, não representa a realidade da maioria das mães brasileiras.
A manchete também levanta questões incômodas. Será que Brunna foi escolhida por ser casada com uma mulher e estar grávida, em um contexto que ainda causa estranhamento para alguns? A notícia, ao invés de celebrar a diversidade, parece alimentar uma divisão desnecessária entre famílias homoafetivas e heterossexuais. E, pior, abre espaço para comentários preconceituosos, como os que já pipocam na página da notícia. Em vez de promover a inclusão, o autor da matéria parece estar mais interessado em gerar polêmica, jogando lama na plateia não pensante para garantir seus cliques.
Essa matéria é um retrato fiel de um jornalismo que prioriza o sensacionalismo e o clickbait. O autor, perdido no tempo e no espaço, parece mais interessado em gerar polêmica do que em informar. É o mesmo tipo de jornalismo que elege políticos sem projetos e transforma notícias em espetáculos vazios. O tom arrastado e superficial da reportagem lembra aqueles apresentadores que fazem “biquinho” para parecerem importantes, mas que, no fundo, não têm nada de relevante a dizer. É o jornalismo do “piscinão” e das viagens luxuosas, que ignora as reais necessidades do cidadão comum.
Mãe do ano não é quem desfila na Sapucaí ou posta fotos sem blusa para exibir a barriga. Mãe do ano é aquela que acorda cedo, trabalha duro e faz sacrifícios diários para garantir o futuro de seus filhos. Mãe do ano é aquela que ama incondicionalmente, independentemente de holofotes ou manchetes. Talvez, em vez de celebrar figuras públicas, a mídia deveria olhar para as mães reais, que vivem à margem dos holofotes, mas que são verdadeiras heroínas no dia a dia. Afinal, todas as mães, sejam famosas ou anônimas, são mães para sempre – e isso é o que realmente importa.