Bonés, cores e conflitos: A desconexão entre o parlamento e as urgências do Brasil. Por Flávio Chaves

 

    Por Flávio Chaves – Jornalista, poeta, escritor e membro da Academia Pernambucana de Letras. Foi Delegado Federal/Minc  –  Enquanto a inflação corrói o poder de compra das famílias, a educação pública enfrenta cortes orçamentários, o desemprego persiste como uma chaga social e a miséria se alastra por todos os cantos do país, o que ocupa o tempo e a atenção de nossos parlamentares? Nos últimos dias, o foco das discussões no Congresso Nacional tem sido a polêmica sobre bonés, suas cores e os dizeres estampados neles. Em um momento de tantas crises urgentes, é profundamente lamentável que questões tão irrelevantes para a vida do cidadão brasileiro dominem o debate político. Isso não só reflete a falta de preparo e envergadura de muitos representantes, mas também a ausência de um projeto claro e consistente para o futuro do Brasil.

O Brasil vive um momento de múltiplas crises. A inflação, que voltou a assombrar o bolso do trabalhador, exige medidas concretas para o controle de preços e o fortalecimento da economia. A educação, base para o desenvolvimento de qualquer nação, sofre com a falta de investimentos e a precarização do ensino público. A habitação, um direito básico, ainda é um sonho distante para milhões de brasileiros que vivem em condições insalubres. O desemprego, que teima em não ceder, mantém famílias inteiras à mercê da informalidade e da insegurança financeira. E a miséria, que deveria envergonhar qualquer governante, só aumenta, escancarando as desigualdades sociais que há décadas desafiam o país.

No entanto, em vez de enfrentar esses problemas com transparência e ações efetivas, o que vemos é a escolha de ministros de Estado para a comunicação como quem escolhe, em uma loja, uma caixa de produtos para maquiagem. Informa-se ao novo ocupante do cargo, de imediato, que sua missão será esconder a real situação do país e mostrar uma face maquiada, vendendo ilusões ao povo. Essa prática não só desrespeita a inteligência do cidadão brasileiro, mas também afasta qualquer possibilidade de diálogo honesto sobre os desafios que precisam ser superados.

Diante desse cenário, é no mínimo desconcertante ver que o tempo e os recursos públicos são gastos em discussões infrutíferas sobre acessórios como bonés. Enquanto o povo clama por soluções, o Parlamento parece mais preocupado com disputas simbólicas e vazias, que não contribuem em nada para a melhoria da qualidade de vida da população.

A obsessão com temas irrelevantes revela uma triste realidade: a falta de preparo e envergadura de muitos parlamentares para lidar com os desafios complexos que o Brasil enfrenta. Em vez de debater propostas concretas para combater a inflação, gerar empregos ou melhorar a educação, vemos representantes eleitos pelo povo se perderem em brigas que mais parecem cenas de um reality show. Isso não só desvia o foco das questões urgentes, mas também desmoraliza a política, afastando ainda mais a população da confiança nas instituições democráticas.

A pergunta que fica é: onde estão os projetos de lei que realmente impactam a vida do cidadão? Onde estão as propostas audaciosas para enfrentar a miséria e a desigualdade? Parece que, para muitos parlamentares, a prioridade não é servir ao povo, mas alimentar polêmicas que geram visibilidade momentânea, mesmo que às custas do interesse público.

O Brasil merece mais. Merece representantes que estejam à altura dos desafios que o país enfrenta. Parlamentares que priorizem as reais necessidades da população, em vez de se perderem em conflitos insignificantes. A política não pode ser um palco para vaidades pessoais ou disputas vazias; ela deve ser um instrumento de transformação social, capaz de melhorar a vida de milhões de brasileiros que dependem das decisões tomadas em Brasília.

Enquanto o Congresso não se reconectar com as urgências do povo, continuaremos a assistir a um espetáculo de irrelevância, enquanto os problemas reais do país se agravam. É hora de cobrar responsabilidade, ética e compromisso com o bem comum. O Brasil não pode mais esperar.