Gilberto Freyre, na noite do Recife, poeticamente à procura de uma musa

Poeticamente, o sociólogo Gilberto Freyre acreditava num outro Brasil que  vem aí… - Flávio ChavesO sociólogo, antropólogo, historiador, pintor, escritor e poeta pernambucano Gilberto de Mello Freyre (1900-1987) perguntou a si mesmo: quem sabe se na madrugada do Recife “Boêmio” não encontrarei a mulher que sempre quis?

BOÊMIO
Gilberto Freyre

Boêmio e até byroniano:
sair liricamente ruas afora,
ir pela beira do cais do Capibaribe
ora recitando baixinho versos à Vovó Lua
ou à Dona Lua, ora assobiando
altos trechos da Viúva Alegre ouvida cantar
por italiana opulentamente gorda no Santa Isabel
e sempre gozando o silêncio da meia-noite recifense, o ar bom da madrugada que
dá ao Recife o seu melhor encanto.

Quem sabe se não encontrará alguma mulher bonita?
Alguma pálida iaiá de cabelos e desejos soltos?
Ou mesmo alguma moura –
encantada na figura de uma encantadora
mulata de rosa ou flor cheirosa no cabelo