Nunca gostei de datas comemorativas. Dia das mães, dos pais, das crianças, enfim, qualquer uma. Acho todas meramente comerciais, para aquecer vendas. Hoje, fui lembrado por leitores de mais uma: o dia do nordestino.
Quando será o do sulista? E o do nortista, que os sulistas confundem com nordestinos? Quando será os dos candangos? Não sabe o caro leitor de qual raça se trata? Dos que moram em Brasília, a capital federal.
Pais de quinta categoria, o Brasil! Por isso, tem essas efemérides. Dia de nordestino é todo dia, porque é um brasileiro da batalha, da luta incansável do dia a dia. Não é nordestino, é brasileiro. Somos uma só raça, um só povo, uma nação única.
A propósito, recorro ao poeta Bráulio Bessa. A questão não é a origem do homem, mas o caráter. A essência de um homem de verdade vem do pai para formar um cidadão, vem da mãe para lhe dar educação. Assim, um menino vira homem de caráter. “Macho véi, com muita sinceridade, eu lhe digo que aqui no meu sertão, caráter e honestidade são coisas de criação, tem família que sofre com sede e fome, sem dinheiro, sem luxo e sem “sobrenome”, 12 filhos e nem um vira ladrão”, escreveu Bráulio.
Sou autor do livro O Nordeste que deu certo, fruto de uma peregrinação de mais de 10 mil km pelos nove Estados nordestinos. Traz a pujança econômica da região, que cresceu na década de 90 mais que o Japão, mais que o próprio Brasil. O prefácio foi do então governador do Ceará, Ciro Gomes, cujo Estado foi destacado no livro pelo rompimento com a política dos coronéis e a construção de uma era com modelo de Estado empresarial, iniciada por Tasso Jereissati.
Na Paraíba, mergulhei nos estudos e pesquisas das suas universidades. Descobri que a tecnologia implantada para o sistema de áudio da Casa Rosada, sede da Presidência da República Argentina, foi desenvolvida na Paraíba. Mostrei que o Rio Grande do Norte é o maior produtor brasileiro de melão e que o polo de fruticultura do Vale do São Francisco virou vitrine internacional.
Mostrei as praias nordestinas, a indústria do axé baiano, as maiores jazidas de gipsitas no Araripe, enfim, outras cositas mais. Tentei ir ao programa do Jô falar sobre o Nordeste e o recorde de vendas do livro na época. Ganhei um tremendo não. Semanas depois, vi o mesmo Jô entrevistando o vencedor do concurso de comedores de banana. Não lembro o número, mas parece havia comido três cachos da fruta.
Nada contra, mas o que se viu foi uma entrevista extremamente preconceituosa e debochada. O intuito foi mostrar que nordestino é subraça. Mas no chamado Dia do Nordestino a emissora e a mídia sulista em geral destacam a data para sugerir que não tem viés preconceituoso com o Nordeste. Se não tem, por que Jô Soares trocou a pauta do Nordeste que deu certo por um comedor recordista de banana?
O preconceito é algo hostil, vem do sul e do sudeste contra um povo tão gentil, que trabalha incansavelmente. Fiquem esses brasileiros desnaturados certos de que maior que a indelicadeza é o preconceito.
Muito prazer, sou nordestino. O orgulho é todo meu!