Até o pessimista Augusto dos Anjos reconhecia que a esperança é um sentimento invencível

O poeta paraibano Augusto dos Anjos (1884-1914), identificado muitas vezes como simbolista ou parnasiano, na verdade poderia ser identificado como pré-modernista, pois encontramos características nitidamente expressionistas em seus poemas, marcados pelo pessimismo. Neste soneto, ele mostra que “A Esperança” é a panaceia para todos os sentimentos e momentos do viver, inclusive, na espera da morte.

A ESPERANÇA
Augusto dos Anjos

A Esperança não murcha, ela não cansa,
Também como ela não sucumbe a Crença.
Vão-se sonhos nas asas da Descrença,
Voltam sonhos nas asas da Esperança.

Muita gente infeliz assim não pensa;
No entanto o mundo é uma ilusão completa,
E não é a Esperança por sentença
Este laço que ao mundo nos manieta?

Mocidade, portanto, ergue o teu grito,
Sirva-te a crença de fanal bendito,
Salve-te a glória no futuro – avança!

E eu, que vivo atrelado ao desalento,
Também espero o fim do meu tormento,
Na voz da morte a me bradar: descansa!