Informação aos jovens eleitores que pegaram o título: O candidato ideal não existe

Charge do Ivan Cabral (ivancabral.com)

Pedro do Coutto

A TV Globo e a GloboNews, a Folha de S. Paulo, O Globo e o Estado de S. Paulo têm veiculado matérias sobre a queda do ritmo de alistamento eleitoral dos jovens de 16 a 18 anos de idade. É possível que a redução de jovens eleitores seja uma decorrência em parte do fato de os eleitos terminarem não praticando os atos anunciados quando candidatos. Acontece muito na política.

Por falar em política há a necessidade de se acentuar uma realidade. Nós, eleitores, só votamos dentro de um cardápio oferecido pelas legendas partidárias. E tem que ser assim porque caso contrário cada um poderia votar em si mesmo e as eleições terminariam sempre empatadas.

CANDIDATO IDEAL – Com a experiência de quem acompanha as eleições desde 1955, repórter político que fui do Correio da Manhã, acredito ter as condições para afirmar que o candidato ideal não existe. É uma ficção que trazemos conosco. Não sou o criador da frase que está no título. Ela foi do professor Alceu Amoroso Lima em artigo publicado no Jornal do Brasil em 1965, como sempre usando o pseudônimo de Tristão de Athayde.

O fato foi o seguinte: num de seus artigos Alceu Amoroso Lima anunciou que votaria em Negrão de Lima contra Flexa Ribeiro, candidato do governador da Guanabara, Carlos Lacerda. Estudantes da PUC o procuraram e demonstraram espanto. “Professor, o Negrão é conservador. Foi embaixador do Brasil em Portugal e se tornou amigo de Marcelo Caetano, primeiro-ministro de Salazar”, afirmaram. Amoroso Lima pediu uma pausa e disse a frase: “Meus filhos, o candidato ideal não existe”.

Portanto, as decepções com os eleitos fazem parte de um contexto e de uma realidade imutável, mas não existe qualquer outro caminho democrático fora das urnas populares.. Como digo sempre, só há duas estradas que levam ao poder; as urnas ou as armas.

ROTAS – Agora, por exemplo, numa eleição polarizada, aliás como no fundo são todas as eleições, temos as rotas das urnas e o atalho para as armas colocado no debate eleitoral pelo presidente Jair Bolsonaro, conforme comprova a sua presença na manifestação de 1º de maio contendo ofensas ao Supremo Tribunal Federal e ao seu fechamento.

Nos encontramos assim novamente, 67 anos depois, no dilema de 1955, quando Carlos Lacerda liderou um movimento, pregando diariamente num programa que tinha na Rádio Globo um golpe contra a posse de Juscelino Kubitschek.  O golpe teve apoio de uma corrente militar. Mas os generais Henrique Lott, ministro da Guerra, e Odílio Denys, comandante do Primeiro Exército impediram o golpe e asseguraram a investidura de JK em 31 de janeiro de 1956.

Carlos Lacerda exilou-se na Embaixada de Cuba, no Rio de Janeiro, que representava o governo de Fulgêncio Batista, em 1959, derrubado por Fidel Castro que o substituiu como ditador. A afirmação de Amoroso Lima, a meu ver, é eterna e não se restringe ao Brasil. É universal.

BOLSONARO NO TIK TOK – Na edição da Folha de S.Paulo de segunda-feira, reportagem de Matheus Teixeira, revela que a presença de Jair Bolsonaro na plataforma do Tik Tok é treze vezes maior que a de Lula da Silva, e que as mensagens predominantes da campanha bolsonarista dirigem-se ao eleitorado jovem.

O levantamento é resultado de uma pesquisa de Maria Carolina Lopes que serviu de tese do seu Doutorado na Universidade Pompeu Fabra, em Barcelona. Carolina Lopes afirma que os números representam um dado importante a ser trabalhado pelas campanhas dos políticos nas redes sociais. Significa, inclusive, que a plataforma Tik Tok está crescendo rapidamente, o que na sua opinião ajuda Bolsonaro, pois Lula não aderiu à comunicação eletrônica.

Maria Carolina Lopes frisou que essa comunicação é importante no contexto que está se verificando de desordem informacional no país. Pessoalmente não concordo com essa classificação relativa à informação, pois o que parece desconhecer é que o processo da informação, que no fundo é também um meio de produção, é multilateral. Não é algo singular e restrito a um só ângulo de percepção. A síntese de várias realidades que às vezes convergem e outras vezes divergem.

REFLEXOS – Há mais um detalhe; é preciso conferir os reflexos do predomínio de um candidato sobre outro nas plataformas. Trata-se de comparar o volume das mensagens e analisar o seu conteúdo. O problema não é só de forma ou volume, mas também de conteúdo. É a confluência entre o piloto e o carro da Fórmula 1. Além disso, tem outro aspecto; deve-se comparar o volume injetado nas redes sociais modernas com os resultados das pesquisas do Datafolha e do Ipec.

Maria Carolina Lopes não leva em consideração que enquanto a predominância de Bolsonaro nas redes sociais é grande, como a pesquisa mostra, a vantagem de Lula da Silva nas intenções de votos demonstra exatamente o contrário. Ainda sobre o alistamento eleitoral dos jovens que termina hoje, dia 4, acentuo que a TV Globo, no JN de segunda-feira, deu um grande impulso para que esses requeiram seus títulos de eleitor.

Ontem, dia 3 de maio, foi o dia da liberdade de imprensa. Mesmo sob ameaça, essa liberdade resiste e mantém sua característica de qualidade essencial à democracia como destaca em publicidade institucional de página inteira, a Associação Nacional de Jornais.

NOVAS ALTAS  –  Em reportagem no O Globo de terça-feira, Bernardo Yoneshigue  revela que a incidência da Covid-19 vem apresentando novas altas, às quais, por coincidência ou não, ocorreram depois do Carnaval, tempo de concentração de pessoas, especialmente nos desfiles das escolas de samba no Rio de Janeiro e São Paulo.

Trata-se de uma questão que deve levar à uma pesquisa sobre a coincidência, pois tanto o número de contaminações quanto de óbitos têm avançado. Vale a pena, inclusive, observar alguns números.

O número de óbitos passou de 663 mil desde o início da pandemia. Tal resultado trágico conduz a uma percentagem de 0,32% sobre a população. O índice de contaminação está oscilando em cerca de 30 milhões de brasileiros e brasileiras. O que significa um percentual de 15%. É preciso que a sociedade se mobilize para cuidados que foram colocados em prática quando a pandemia estava ascendente no país. O uso da máscara é um cuidado a ser considerado.

SUPERÁVIT PRIMÁRIO –  A Folha de S. Paulo de ontem, reproduzindo matéria da Agência Reuters, divulgou que o desempenho das contas públicas no mês de fevereiro apresentou, segundo o Banco Central, um superávit primário de R$ 3,5 bilhões. Aliás, nos últimos 12 meses, o superávit foi de R$ 123 bilhões.

Portanto, como se constata, a diferença entre receitas e despesas é favorável ao país. Mas isso quanto ao plano básico financeiro porque o superávit primário não inclui o volume da despesa com os juros pela rolagem da dívida interna. Essa despesa é resultado da incidência dos juros de 11,75%, taxa Selic, sobre o endividamento bruto que é de R$ 5,9 trilhões. Assim, o superávit primário é cinco vezes menor que o déficit secundário. Uma questão que merece ser esclarecida para que a opinião pública não seja iludida.