O velho marinheiro leva o barco devagar. Por Antonio Magalhães

Por Antonio Magalhães

A Central Única dos Trabalhadores (CUT) lançou, em agosto de 2021, as suas brigadas digitais para fortalecer a candidatura do PT à presidência da República por meio da Internet,  produzindo e disseminando conteúdos desta facção. A CUT, fração petista do sindicalismo de opereta, mobilizou, segundo ela, 60 mil comunicadores em todo o país para fazer frente às hostes digitais bolsonaristas.

Todos os trabalhadores em comunicação da central estão sendo convidados para atuar em rede e de forma organizada com as pautas estipuladas pela organização sindical. No vídeo de apresentação das brigadas, no site da CUT, está lá a informação que a meta principal é “expulsar o bolsonarismo da política nacional”.

Os termos são claros e violam a legislação eleitoral. Os sindicatos não podem usar a sua estrutura de comunicação e os recursos que as entidades têm para promover determinada candidatura. Isso é vedado pela Lei Eleitoral. E mais: neste caso, o principal prejudicado, se houver alguma representação contra a publicação, é a candidatura apoiada pelos sindicalistas.

“As entidades podem ter sanções genéricas e serem obrigadas a retirar a matéria do ar, mas as punições para os candidatos podem chegar até a impugnação da candidatura ou a não diplomação caso seja eleito”, complementa o advogado José Eymard Loguércio, sócio do escritório LBS Advogados e contratado pela própria CUT.

Ainda alerta o site da central sindical que lives ou debates somente com candidatos que defendam os interesses da classe trabalhadora também podem causar problemas. “Os sindicatos não podem usar suas estruturas para beneficiar alguns candidatos, em detrimento de outros porque a Justiça Eleitoral pode considerar como privilégio a determinados candidatos a partir da estrutura sindical”.

Mas o mote já foi dado pelo secretário de comunicação da CUT, Roni Barbosa. Segundo ele, “tudo começou com as análises e reflexões que fizemos sobre os ataques da extrema direita, como eles usaram intensamente as redes sociais para espalhar as mentiras, chamadas de Fake News, e conseguiram eleger um presidente da República que tenta implantar um projeto neofascista e ultraliberal de destruição do nosso país”.

E convida: “Você dirigente, militante ou uma liderança na sua categoria, que tenha respeito na  sua comunidade, é hora também de influenciar o mundo digital”.

Como se vê a grande batalha desta eleição de 2022 deve se dar no ciberespaço, no mundo digital, já observado pelos olhos grandes do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) comandado pelo ministro Alexandre de Moraes, que vai presidir a corte na eleição, e focado em tudo que possa ser no seu entendimento Fake News ou desinformação.

Portanto, o risco vai ser grande para a facção bolsonarista que já não é vista com bons olhos por Moraes, que usa critérios pessoais para punir internautas indesejados. O histórico do ministro nesta questão precede o último episódio de bloqueio do aplicativo de mensagens Telegram porque não quis se submeter, como outros aplicativos, às orientações restritivas e anti liberdade do TSE.

Vem desde o famoso inquérito das Fake News de anos atrás quando Moraes atribuindo para si próprio o papel de investigador, vítima e julgador interveio em sites simpáticos ao presidente da República, encerrou outros e desmonetizou alguns deles sob a alegação de serem propagadores de mentiras.

Pois é! É com este presidente do TSE, com todos os seus antecedentes, que vai acontecer a eleição presidencial de 2022. E qualquer dúvida pertinente ao pleito, como a inviolabilidade da urna eletrônica, por exemplo, tem que ser riscada do mapa.

Os bolsonaristas têm que fazer como sugere Paulinho da Viola – como artista deve ser contrário ao Governo – no seu samba Argumento, composto nos anos de censura braba do regime militar:

Tá legal/ Tá legal, eu aceito o argumento/ Mas não me altere o samba tanto assim / Olha que a rapaziada está sentindo a falta/ De um cavaco, de um pandeiro ou de um tamborim

Sem preconceito ou mania de passado/ Sem querer ficar do lado de quem não quer navegar

Faça como um velho marinheiro/ Que durante o nevoeiro/ Leva o barco devagar.

É isso.

*Jornalista