Novo capítulo! Azeda o clima entre ministros militares e o presidente da Petrobras

O ministro Braga Netto e o presidente Jair Bolsonaro em solenidade no Planalto

Malu Gaspar
O Globo

Os ministros mais próximos a Bolsonaro, especialmente os da ala militar, não gostaram da reação do presidente da Petrobras, Joaquim da Silva e Luna, e do ministro das Minas e Energia, Bento Albuquerque, às declarações de Bolsonaro sobre alta de preço dos combustíveis.

Vários desses ministros, especialmente o general Braga Netto, da Defesa, têm repetido em conversas com aliados que Silva e Luna não cumpriu a missão para a qual foi convocado e não deveria estar respondendo a presidente publicamente. Braga Netto é hoje o mais cotado para ser candidato a vice-presidente na chapa de Bolsonaro à reeleição.

NÃO QUER SAIR – Em entrevistas ontem e hoje, Silva e Luna e Bento Albuquerque disseram que o general não vai pedir demissão. “Jamais farei isso”, disse Silva e Luna à jornalista Andrea Sadi.

“Tenho formação militar, a gente morre junto na batalha e não deixa a tropa sozinha. Agora, minha indicação é do presidente da República, com quem tenho uma relação de lealdade e de confiança”, acrescentou.

Já Bento Albuquerque declarou que a administração da Petrobras está correta e que Silva e Luna é competente e eficiente, e portanto não tem por que sair do cargo.

TERÁ DE DEMITI-LO – As declarações foram interpretadas no Palácio do Planalto como uma forma de o general sinalizar a Bolsonaro que, se quiser que ele saia, terá que arcar com o desgaste de demiti-lo.

A um interlocutor, hoje, o ministro Braga Netto lamentou o fato de que o presidente da Petrobras “não está se alinhando” a Bolsonaro.

Além de Braga Netto, outros ministros fardados, como Luis Eduardo Ramos e Augusto Heleno, já não defendem Silva e Luna, como fez no início da semana o vice-presidente Hamilton Mourão.

CULPA DA PETROBRÁS – Na coordenação política da campanha de Bolsonaro, as críticas públicas são consideradas essenciais para vacinar o presidente quanto à responsabilidade pelos aumentos. Servem para dar à base a justificativa de que o presidente faz o que pode, e a culpa pelos reajustes é da Petrobras.

A expectativa no entorno de Bolsonaro não é a de que ele demita Silva e Luma, mas sim de que ele continue fustigando Silva e Luna publicamente e nos bastidores até que ele se demita.

Em defesa de Silva e Luna, Mourão afirmou que ele é resiliente e que, como bom nordestino, aguenta pressão. É o caso de acompanhar para ver até que ponto a resiliência vencerá a política.