Reflexão – Bellum omnia omnes. José Nivaldo Junior

Por  José  Nivaldo  Júnior  – Consultor em comunicação, advogado, historiador, escritor e membro da Academia Pernambucana de Letras. 

A expressão significa a guerra de todos contra todos, que seria, na visão de Thomas Hobbes, o estado natural das sociedades. Isto está no seu livro mais célebre, “O Levitã”, Monstro/Estado necessário para conter os impulsos bélicos das pessoas.
Em outra obra menos conhecida, “O Contrato Social” (mesmo nome da obra do adversário J.J. Rousseau), Hobbes popularizou uma expressão da antiguidade clássica: homo homini lupus, ou seja, o homem é o lobo do próprio homem.

GUERRA NATURAL

Tentando resumir o pensamento de Hobbes: a guerra é a situação natural dos seres humanos. Só a intervenção de uma entidade superior, forte, autoritária, o monstro bíblico Levitã é capaz de evitá-la. Temos ONU, OTAN, Pacto de Varsóvia, todos gatinhos muito longe do tigre.

HERÁCLITO E O CONFLITO

Hobbes, diriam os patrulheiros ideológicos de hoje, é um pensador “de direita”. Então vamos beber na fonte da matriz de todo o pensamento “de esquerda”, da Magna Grécia até hoje. Heráclito de Éfeso, o sistematizador do pensamento dialético, dizia, em tradução bem livre, que a essência da natureza é o movimento e a situação natural do universo é o conflito. Ou seja, a morte não cabe nos limites da ideologia vulgar.

O MUNDO EM PERIGO

A ameaça de uma guerra global nos faz gelar. A ameaça da destruição coletiva assusta mais que a certeza da morte individual.
Neste fim de tarde, enquanto o mundo prende a respiração pela ameaça de um conflito que pode ser o último do planeta, lembro Riobaldo, o celebrado personagem de Guimarães Rosa: ” Viver é um negócio muito perigoso”.
Sempre foi. “Viver é lutar”, canta Gonçalves Dias na “Canção do Tamoio”. Os Tamoios lutaram e desapareceram. Todo ser vivente pode desaparecer.
Tranquiliza pensar que o risco que corremos de uma guerra com destruição em escala planetária não é inédito, pelo contrário. É o mesmo que corriam os povos primitivos, encolhidos no interior da suas frias cavernas, ao anoitecer. Podiam amanhecer exterminados tanto por animais predadores quanto por um grupo humano rival.
Nada diferente desse começo de noite.