O magistrado, jornalista, político, contista e poeta paulista Vicente Augusto de Carvalho (1866-1924), num soneto inspirado, não espera o bem que mais deseja, inclusive, conta o mal que vê, mas seu amor, que é cego, sonha com o bem inexistente.
EU NÃO ESPERO O BEM QUE MAIS DESEJO
Vicente de Carvalho
Eu não espero o bem que mais desejo:
sou condenado, e disso convencido;
vossas palavras, com que sou punido,
são penas e verdades de sobejo.
O que dizeis é mal muito sabido,
pois nem se esconde nem procura ensejo
e anda à vista naquilo que mais vejo:
em vosso olhar, severo ou distraído.
Tudo quanto afirmais eu mesmo alego:
ao meu amor desamparado e triste
toda a esperança de alcançar-vos nego.
Digo-lhe quanto sei, mas ele insiste;
conto-lhe o mal que vejo, e ele, que é cego,
pôs-se a sonhar o bem que não existe.