PT não aceita ‘pito’ nem considera essencial a federação com PSB, afirma dirigente petista

O deputado José Guimarães dá entrevista

Deputado José Guimarães reclama das exigências do PSB

Ranier Bragon
Folha

O deputado federal José Guimarães (CE), um dos vice-presidentes do PT, afirmou que o partido recebeu com indignação as reclamações do presidente do PSB, Carlos Siqueira, de que faltaria reciprocidade do partido de Lula nas negociações para a formação de uma federação.

“A militância não aceita que alguém de outro partido fique dando pito no PT. ‘Faça isso senão não vou…’ Quem não quiser não vai. Não estamos pedindo favor a ninguém para compor a federação”, afirmou Guimarães, 64 anos, hoje integrante do núcleo político próximo a Lula.

Em entrevista à Folha, Siqueira havia apontado como entrave a proposta de o PT controlar 27 das 50 cadeiras de uma possível federação entre PT, PSB, PC do B e PV, o que seguiria a proporcionalidade do tamanho das bancadas na Câmara. Siqueira defende que outros parâmetros sejam levados em conta, como o número de prefeitos —em que o PSB se sai melhor.

O dirigente do PSB disse esperar também “reciprocidade” do PT em palanques estaduais, em especial São Paulo, onde Fernando Haddad (PT) e Márcio França (PSB) disputam a vaga de candidato da coalizão ao governo.

O presidente do PSB manifestou preocupação de o PT tentar ter a hegemonia em uma eventual federação. Como o partido irá contornar essa insatisfação?
O PT não iniciou o debate sobre federação somente por questões eleitorais. O PT entende que a federação é um instrumento que pode ser fundamental para alterar a correlação de forças dentro do Congresso, com um bloco de esquerda, centro esquerda, que seja capaz de iniciar uma nova governabilidade congressual. Agora, nós não fomos procurar nenhum desses partidos para fazer federação. Nós iniciamos o debate a partir da solicitação deles, e não tem nada definido. Portanto, se um dos partidos discorda de uma ou outra tese do PT, se discute isso internamente. O PT não vai resolver nada das federações pelas páginas de jornais ou recebendo pito desse ou daquele partido. O PT tem história, tem maturidade.

O PT não estaria obtendo apoio a Lula sem dar algo relevante em troca?
No debate que fizemos com os quatro partidos sobre o estatuto da federação foi colocado um critério para respeitar o tamanho dos partidos, tamanho do Congresso, ninguém pode querer ser mais do que outro se não tem voto para isso. Mas em número de prefeitos o PSB é maior. Eleição municipal é outra coisa, em federação você parte do princípio nacional. Nós levantamos essa ideia, e PV e PC do B concordaram. Mas nem batemos o martelo porque não tem definição sobre a federação. Se o Siqueira discorda, que ele diga na reunião, que ele converse conosco.

Mas ele não manifestou isso a vocês, em reuniões?
Ele manifestou na reunião, eu estava nela, e eu tinha entendido que havia um consenso que se respeitasse o princípio da proporcionalidade. Ninguém tira tamanho dos partidos por decreto. O partido tem representatividade social, tem voto. O PT é do seu tamanho e é desse tamanho que nós vamos para a eleição.

O PT, então, não abre mão dessa proporcionalidade?
O PT não vai abrir mão de seu tamanho, porque estaríamos incorrendo em um erro grave. É um tamanho dado pelas urnas, não é por decreto. É o tamanho das bancadas no Congresso que decide fundo eleitoral, fundo partidário, liderança no Congresso. O PSB vai participar da federação com o seu tamanho, o PT com o seu tamanho, o PV com o seu tamanho, o PC do B com o seu tamanho. Isso é respeito e reconhecimento do que o eleitor decidiu na última eleição e poderá decidir na próxima. E temos que agregar outras forças de centro. Temos que atrair o Alckmin, temos que sentar com o PSD do Gilberto Kassab. E com várias forças, ainda que não seja coligações formais. Temos vários palanques estaduais com o MDB, como no Pará e em Alagoas.

?O PSB argumenta só ter pedido apoio a seus candidatos em cinco estados, incluindo São Paulo. O que o PT está disposto a ceder? Veja bem, Humberto Costa acabou de fazer um baita de um gesto. Renunciou a uma candidatura que está em primeiro lugar ao governo de Pernambuco [em apoio ao nome do PSB]. Isso não conta? Eu já falei para o Siqueira: no Espírito Santo é só o governador Renato Casagrande apoiar o Lula. Ele não declarou apoio ainda, como vamos apoiar um cara se você não sabe se ele apoia o Moro ou o Lula? Na hora que ele se dispuser a sentar com o PT, respeitando o PT e declarando apoio ao Lula, estaremos no palanque do Casagrande no Espírito Santo. E em São Paulo? O Fernando Haddad foi nosso candidato à Presidência, se colocou como alternativa. É o candidato do PT, como o PSB diz que tem candidato, o Márcio França. Eu defendo a ideia de que em São Paulo devemos unir Haddad, Márcio França, Guilherme Boulos [PSOL] e Geraldo Alckmin [ex-PSDB, que negocia ser vice de Lula]. Evidentemente, e aí falo a você com todas as letras, o PT dificilmente deixará de ter candidato a governador de São Paulo, pelo que representa o Haddad. Agora, isso é motivo para não sair a federação? Não. Isso é motivo para ter dificuldade para apoiar o Lula? Não. Nós vamos ter que administrar.