O ritmo eterno do talento de Pedro Kilkerry, que uniu prosa e verso, com grande sucesso

O advogado e poeta baiano Pedro Militão Kilkerry (1885-1917), no soneto “Ritmo Eterno”, faz a vida falar da vida. Em 1906, Kilkerry se juntou ao grupo literário baiano Nova Cruzada e começou a publicar seus primeiros poemas na revista homônima. Em 1913, o poeta se forma em ciências jurídicas e sociais na Faculdade de Direito da Bahia, no mesmo ano em que passa editar as crônicas Quotidianas – Kodaks no Jornal Moderno e lança mão pela primeira vez do poema em prosa. Kilkerry ainda colaborou com poemas e artigos em periódicos de Salvador e começa a escrever em verso livre em seus últimos anos.

RITMO ETERNO
Pedro Kilkerry

Abro as asas da Vida à Vida que há lá fora.
Olha… Um sorriso da alma! — Um sorriso da aurora!
E Deus — ou Bem! ou Mal — é Deus cantando em mim,
Que Deus és tu, sou eu — a Natureza assim.

Árvore! boa ou má, os frutos que darás
Sinto-os sabendo em nós, em mim, árvore, estás.
E o Sol, de cujo olhar meu pensamento inundo,
Casa multiplicando as asas deste mundo…

Oh, braços para a Vida! Oh, vida para amar!
Sendo uma onda do mar, dou-me ilusões de um mar…
Alvor, turquesa, ondula a matéria… É veludo,

É minh’alma, é teu seio, e um firmamento mudo.
Mas, aos ritmos da Terra, és um ritmo do Amor?
Homem! ouve a teus pés a Natureza em flor!