O jornalista, notário e poeta mineiro Murilo Monteiro Mendes (1901-1975), fez parte do Segundo Tempo Modernista. Recebeu o Prêmio Graça Aranha com seu primeiro livro “Poemas”. Participou do Movimento Antropofágico, que buscava uma vinculação com as origens do Brasil. Expoente do surrealismo, em seu “Poema Chicote” ele joga com a dualidade “nascer para não nascer”.
POEMA CHICOTE
Murilo Mendes
Eis o tabuleiro do abismo
Com esfinge, quimeras e grifo.
O céu debruado em ódio
Mostra o peito de arlequim.
Eternidade madrasta,
Meu pensamento me queima
Terrível. Já estou com medo
De avançar para mim mesmo.
Nada existe sem amor.
Esposa que te negaste,
É tarde! em torno de mim
O mito rói a realidade
Cortinas negras abafam
Meu invicto coração.
Ó Deus como tardas a vir
Nas asas do teu enigma!
Nasci para não nascer.