NÃO APRENDEMOS NADA. MÁSCARAS VÃO SUMIR E APERTOS DE MÃO VÃO VOLTAR?

Os historiadores gostam de falar que quem não aprende com os próprios erros tende a repeti-los. Isso não é o pior. Danado é a humanidade não aprender sequer com os seus acertos. Se a pandemia trouxe algo de positivo foi educar a população a usar máscara e higienizar as mãos com frequência e, o mais importante, evitar o tradicional aperto como cumprimento.

Os benefícios complementares são evidentes. Levante o dedo quem encontrou pessoas gripadas nos últimos meses. Eu mesmo, este ano, não lembro de ninguém. Não, não é ciência (ainda) caro Patrulheiro Toddy do conhecimento. É empirismo. Por onde a ciência teve origem.

PEGOU

Como todo mundo sabe, tem coisas que pegam e coisas que não pegam. As máscaras pegaram, apesar de alguns inconvenientes e eventuais esquecimentos. Pois bem: os governos ao invés de aproveitarem o embalo e estimularem a permanência do adereço até que ele se torne tão normal como cuecas e calcinhas, entraram numa corrida alucinada para ver quem libera primeiro

o seu uso. Claro que nada deve ser imposto. Mas já que a pandemia ainda está causando estragos e o uso da máscara foi bem incorporado, por que não manter por mais tempo? E simultaneamente fazer uma campanha ampla e constante sobre os seus benefícios, até que as pessoas se convençam de que ganham mais usando máscaras do que roupas íntimas. Alô desmoralizada OMS. Que tal começar a recuperar o conceito jogado na lata do lixo durante a pandemia, propondo e coordenando uma campanha mundial sobre isso?

MÃO AO ALTO

Li na revista “SERA?” desta semana artigo de Paulo Gustavo sobre o tema. Cita um livro recente, lançado na Inglaterra e ainda sem tradução no Brasil, de Ella Al-Shamani, bióloga e paleoantropóloga. (“The handshake, a gripping history”). Pelo resumo, a autora viajou na maionese. Delirou. Disse, sem qualquer suporte factual, que o aperto de mão vem de tempos imemoriais, da pré-história. Conversa fiada. Quem já viu índios esquimós, mongóis ou qualquer povo primitivo trocando apertos de mão? Onde Darwin, Engels ou o nosso Darcy Ribeiro, que estudaram sociedades primitivas, registram esse costume na pré-historia? O gesto é antigo, mas não tanto. A evidência mais distante da prática, pesquisei no Google, vem da Assíria, no século IX a C. Persistiu como um gesto de paz ou acerto entre governantes e pessoas importantes. Só se popularizou no Ocidente a partir do século XVIII. No Oriente, não é usado de jeito nenhum. Os orientais preferem o asséptico “nemastê”, aquela simpática inclinação guardando distância regulamentar.

AVISOS ANTES DA PANDEMIA

Sempre registro que, muitos anos atrás, o papa do colunismo no Nordeste, João Alberto, considerou “OUT” apertar mãos em restaurante. Fez uma campanha para acabar com o péssimo hábito. Apesar da força do DP, deu em nada.

Todo mundo sabe que os apertos de mãos são grandes transmissores de doenças infecciosas.

Estudos científicos ao longo do tempo mostram isso. Propõem o fim do hábito. Ate agora, em vão Até porque existe coisa mais mal educada do que deixar alguém de mão estendida?

ADEUS, ADEUS

A força do hábito não pode prevalecer sobre a saúde pública. A saúde pública não pode ser motivo para espezinhar liberdades individuais. Sou contra obrigar as pessoas em espaço público a usarem qualquer proteção. Mas sou a favor da criação de regras e padrões de higiene para quem lida com o público. Exemplo: a obrigatoriedade dos garçons usarem o apetrecho é tão importante como a asséptica das cozinhas. A manutenção do álcool em gel nos lugares onde está hoje. Coisas simples, avanços na convivência civilizada. Aprender com os acertos. Tão simples. E tão complexo para fazer.

EU MESMO

Daqui para diante, só aperto mão de cliente, caso ele estenda. E higienizo em seguida. Com bom humor, venho fazendo isso, com sucesso. Esta semana, uma autoridade estendeu a mão. Como estava com meu álcool, higienizei a minha antes de apertar a dele. O cara se tocou e estendeu a sua para higienização prévia. Não houve constrangimento.

Vou avisando com antecedência: com ou sem pandemia, só pretendo frequentar estabelecimentos que disponibilizem álcool em gel, respeitem o distanciamento e os funcionários usem máscara. Provavelmente mais uma guerra perdida, mas vamos a ela. Afinal, antes do coronavirus eu já tinha horror a gripe. E nessa idade, tenho que zelar pela saúde. Minha meta é viver mais que meu pai, que chegou aos 89.