Lula tenta organizar pauta para se livrar dos temas “incômodos” ao PT em 2022

Lula vai negar que houve roubo na Petrobras durante governos do PT

Lula não quer defender mais o aborto nem atacar a Lava Jato

Bruno Boghossian
Folha

No início de seu segundo mandato, Lula correu para esvaziar uma controvérsia criada no governo. O Ministério da Saúde havia enfurecido grupos conservadores ao anunciar uma consulta pública sobre a descriminalização do aborto. O presidente avisou que não proporia mudanças na legislação e disse que o debate era responsabilidade do Congresso.

A flexibilização da lei sobre a interrupção da gravidez era uma bandeira aprovada em discussões internas do PT, mas Lula fez uma manobra para evitar que o tema contaminasse a pauta política. Nas últimas semanas, o petista deu início a um movimento semelhante para reduzir o peso de outras bagagens que podem incomodá-lo na campanha de 2022.

Mudou de ideia – Lula indicou que não pretende manter no centro da arena a discussão da regulação da mídia. Depois de defender mudanças na área em agosto (“eu vou regular os meios de comunicação”), o petista agora afirma que essa é uma tarefa do Congresso (“obviamente, isso não é uma coisa do presidente da República”).

O PT quer reduzir o foco sobre tópicos que são tradicionais flancos de ataques rivais. A Lava Jato é um exemplo. Em defesa de Lula, petistas ocuparam parte do debate público nos últimos anos com críticas à operação.

Em entrevista na sexta (8), o ex-presidente preferiu deixar o assunto em segundo plano e disse que aquelas eram “coisas do passado”.

TRÊS OBJETIVOS – O ajuste cumpre três funções. A primeira é deixar de revirar um assunto que desgasta a imagem do partido, mesmo com a anulação das condenações de Lula. Além disso, o petista trata a Lava Jato como caso encerrado para dizer que venceu nos tribunais. Ele tenta apontar ainda que o tema não diz respeito às reais preocupações do povo mais pobre.

Petistas também querem jogar para o canto a pauta conservadora que amarra segmentos evangélicos a Jair Bolsonaro.

Dirigentes afirmam que a agenda econômica será mais eficaz para atrair o eleitorado religioso e falam até em limitar contatos com líderes das igrejas para reduzir sua influência no debate eleitoral.