Ao colocar Ciro Nogueira na Casa Civil, é claro que Bolsonaro perde apoio junto aos militares

Ciro Nogueira e a mãe, Eliane Nogueira

Nogueira comemora com a mãe, que o substitui no Senado

Lauriberto Pompeu
Estadão

O senador Ciro Nogueira (PI) é o novo ministro da Casa Civil. Presidente do Progressistas, Nogueira se reuniu na manhã desta terça-feira, 27, com o presidente Jair Bolsonaro e aceitou convite para integrar a pasta que coordena todos os ministérios e é responsável pela articulação política do Palácio do Planalto com o Congresso.

A entrada de Nogueira na equipe significa levar o Centrão para o núcleo duro do governo, uma vez que o senador é um dos principais líderes do grupo, ao lado do presidente da Câmara, Arthur Lira (AL). A estratégia contradiz todas as afirmações de Bolsonaro contra a velha política e o toma-lá, dá cá.

SOB DESCONFIANÇA – O novo ministro substitui o general Luiz Eduardo Ramos, que foi deslocado para a Secretaria-Geral da Presidência. Na dança das cadeiras, Onyx Lorenzoni – antes na Secretaria-Geral – comandará agora Emprego e Previdência, que será criado com o desmembramento de funções sob hoje sob o guarda do Ministério da Economia.

Na prática, Nogueira assume sob a desconfiança da ala militar do governo, que vem perdendo poder. Ao Estadão, Ramos chegou a dizer, na semana passada, que havia sido “atropelado por um trem” ao saber da troca na Casa Civil.

O Estadão apurou que o general tentou evitar até o último momento a substituição. Na tentativa de mostrar que não há queda de braço, porém, Ramos tirou foto, nesta terça-feira, ao lado de Bolsonaro, Nogueira, Lira e dos ministros Fábio Faria (Comunicações) e Flávia Arruda (Secretaria de Governo).

NO CORAÇÃO DO GOVERNO – Sob pressão da CPI da Covid e desgastado com a perda crescente de popularidade, refletida em protestos de rua, Bolsonaro decidiu levar o Centrão para o coração do governo e fazer a quarta aposta na Casa Civil – que antes foi ocupada por Onyx, Braga Netto e por Ramos – com o objetivo de barrar o impeachment e construir sua campanha à reeleição, em 2022.

Com o movimento, o presidente contemplou o Senado – que até então não tinha cargos no ministério – casou de papel passado com o Centrão e ainda puxou para a equipe um político que, além de muito experiente, tem o pé no Nordeste.

É exatamente nesta região que Bolsonaro precisa conquistar apoio para enfrentar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que hoje lidera as pesquisas de intenção de voto.

REUNIÃO DE BACANA – Na campanha de 2018, Bolsonaro fazia críticas contundentes à velha política, acusava o PT de fisiologismo e prometia jamais lotear o governo. Em convenção do PSL realizada em julho daquele ano, o general Augusto Heleno Ribeiro, hoje ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), chegou a cantarolar uma música trocando o termo “ladrão” por “Centrão”. “Se gritar pega Centrão, não fica um, meu irmão”, cantou o general, mudando verso da letra de “Reunião de Bacana”.

À época o PSL era a sigla de Bolsonaro, que hoje está sem partido e pode até mesmo migrar para o Progressistas. O presidente também já foi do PP comandado por Nogueira. “Eu sou do Centrão”, disse ele no sábado, na esteira de críticas à contradição entre seu discurso e a prática, nas redes sociais. “Eu nasci de lá”.