ALÉM DA NOTÍCIA – PAULO CÂMARA MANDA APURAR RESPONSABILIDADE QUE É DELE

 

Nenhuma descrição disponível.

Da equipe de O PODER. Com informações e imagens do G1, Rede Globo, JC, UOL, redes sociais, Google, Blog do Magno, Fernando Castilho, Ed Rodrigues e Blog do Ricardo Antunes.

A declaração do governador de Pernambuco, Paulo Câmara, após os incidentes de ontem, no Recife, trazem mais dúvidas que respostas. Novamente ele parece, no mínimo, gravemente desconectado dos fatos. A se considerar que foi sincero, o governador sequer conseguiu

se informar acerca do conjunto de atos de violência que ocorreram literalmente no seu terreiro. Tudo se passou num raio de cerca de 400 metros em torno do Palácio do Campo das Princesas, sede do Governo de Pernambuco.

ELE SABIA?

Fora isso, resta outra hipótese: Paulo Câmara autorizou o plano e sabia de tudo. Se foi isso o que ocorreu, seu objetivo com a declaração seria amenizar a gravidade dos fatos, desviar o foco da imprensa e da sociedade, esconder sua própria responsabilidade e punir militares da linha de frente, que apenas cumpriam ordens. Ou seja, um faz de contas.

A MANIFESTAÇÃO

Fez parte de um conjunto de atos em diversas capitais do Brasil com o mote principal “Fora Bolsonaro”. Reuniu uma multidão ordeira e pacífica. No momento do início da marcha, a massa ocupava uma das faixas desde o primeiro quarteirão da Avenida Conde da Boa Vista até o ponto de concentração, na Praça do Dérby. Uma extensão aproximada de 800 metros. Pelo menos na partida, todos usavam máscara e havia cuidados para manter o distanciamento entre os manifestantes.

AGRESSÃO LONGE DO CONFRONTO

A fala do governador Paulo Câmara refere-se à agressão sofrida por uma vereadora do PT. Este incidente ocorreu na Ponte Buarque de Macedo, que liga a Praça da República, onde se localizam o Palácio do Governo e o Tribunal de Justiça ao Bairro do Recife, onde a manifestação deveria terminar.

A agressão à vereadora foi um ato isolado. A edil não veio com a marcha. Aparentemente, estava aguardando o final, nas imediações do marco zero. Buscou contato com a polícia, talvez, já informada do confronto, quem sabe para registrar participação no evento.

SEGUNDA LINHA

O único sentido aparente para o seu contato seria solicitar a remoção dos carros da Polícia, posicionados na Ponte Buarque de Macedo. Uma suposta segunda linha de bloqueio, para impedir a eventual passagem dos manifestantes que por acaso conseguissem chegar até ali. Não conseguiram, desde que foram violentamente detidos e dispersados antes. A resposta da PM à abordagem da vereadora foi violenta e totalmente desproporcional. Mas foi um episódio secundário no contexto.

PONTOS DA VIOLÊNCIA

O mais grave ocorreu principalmente na

ponte Duarte Coelho, que liga as Avenida Conde da Boa Vista e Guararapes.

Outro local de conflito ocorreu nas imediações da Assembleia Legislativa, na cabeça da ponte Santa Isabel.

Ali, a PM também se posicionava para não deixar ninguém passar. E não deixou. O Recife foi a única capital do País onde a PM interferiu para interromper e dispersar a manifestação. O resultado foram cenas de violência gratuita e injustificada que correm mundo, causando indignação e revolta.

NADA ACONTECEU POR ACASO

No começo da Avenida Guararapes a Tropa de Choque esperava a passeata. Posicionados sobre a faixa de pedestres, no início da via, os soldados do choque puseram-se em marcha mal os primeiros manifestantes apareceram no alto da ponte Duarte Coelho, exatamente no local onde, no carnaval, fica instalado o Galo gigante. Não houve proximidade, contato, agressão, insultos. Os vídeos que circulam nas redes sociais não deixam dúvidas. Tão logo os soldados armados, portando escudos e cassetetes, começaram o deslocamento de uns 10 metros, para fechar a saída da ponte, atiradores de elite que se posicionavam ao lado e atrás deles, começaram a atirar. A única explicação é que cumpriam um plano preestabelecido, pois não houve qualquer motivo no local para aquele encaminhamento.

TIROS NAS PESSOAS

O tiroteio ficou intenso, conforme se vê e ouve nos vídeos e áudios gravados na ocasião. Inicialmente, o bombardeio atingiu o lado vazio da ponte. Nos minutos seguintes, com o ajuste das miras, a aproximação pacífica da passeata e o pânico que se apoderou da multidão, pessoas passaram a ser atingidas. Nao houve balas perdidas. O alvo eram as pessoas. Pode parecer lugar comum. Mas nem no tempo da ditadura militar se viu no Recife, nem de longe, uma agressão tão descabida e sem motivo contra uma passeata.

SANGUE NAS MÃOS

Muitas pessoas foram afetadas pelo gás lacrimogêneo. Os tiros com balas de borracha e as bombas “de efeito moral” deixaram dezenas de pessoas atingidas, três feridos no local necessitaram atendimento médico de emergência. Um homem que não fez absolutamente nada além de estar na linha de fogo, ficou cego de um olho. Uma vida gravemente sequelada por uma atuação repressiva arbitrária que clama por justiça.

APURAR SUA PRÓPRIA RESPONSABILIDADE

O governador Paulo Câmara ignorou solenemente o conjunto dos fatos e a gravidade da ação policial. Sequer se referiu aos manifestantes feridos. Muito menos pediu desculpas. Dirigiu-se unicamente à vereadora do PT ferida em conflito pontual, como foi dito. Através da declaração, se soube que Paulo Câmara afastou o comandante da operação e exigiu apuração rigorosa das responsabilidades.

ESPELHO MEU

A análise das imagens não deixa dúvidas de que a violência contra a manifestação não foi decorrente de circunstâncias de momento. A distância da multidão, o caráter pacífico da manifestação, não permitem nenhuma chance de ter ocorrido reação equivocada de alguém. Tudo decorreu, sem qualquer sombra de dúvidas, de um plano estratégico. Os militares foram para as ruas pautados para fazer o que fizeram. A cadeia de comando é clara. Passa pelo QG da PM, no Derby. Este, cumpre ordens da Secretaria de Defesa Social. Que cumpre ordens do próprio governador.

A única pergunta que interessa no caso: Paulo Câmara é culpado porque mandou fazer ou porque se omitiu de comandar?