Bolsonaro articula e tenta emplacar nomes de fora da base aliada para evitar Calheiros e Randolfe no comando da CPI

Charge do Gilmar Fraga (gauchazh.clicrbs.com.br)

Gustavo Uribe e Daniel Carvalho
Folha

Com pouca chance de emplacar uma maioria governista na CPI da Covid do Senado, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tem defendido que os postos de presidente e relator da comissão parlamentar sejam ocupados por senadores que não sejam alinhados nem ao governo nem à oposição.

A estratégia ao pregar uma alternativa que represente um meio-termo é evitar que senadores como Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e Renan Calheiros (MDB-AL), críticos recorrentes do presidente, ocupem cargos de destaque e aumentem ainda mais o desgaste que a investigação pode provocar.

LINHA NEUTRA – Nesta terça-feira, dia 13, horas depois da sessão que criou a comissão de inquérito, assessores do presidente já defendiam que a investigação deve seguir uma linha neutra e que não seja contaminada pelo que chamam de paixões políticas.

O receio principal do Palácio do Planalto é que a investigação sobre a condução do combate ao coronavírus pelo Poder Executivo afete a popularidade do presidente a um ano da campanha à reeleição e leve o governo a responder por eventuais acusações criminais.

A avaliação na equipe presidencial é que, por contar com a maior bancada federal no Senado, é natural que o MDB ocupe um dos postos.Para evitar que o escolhido seja Renan, integrantes da articulação política não descartam um apoio a Eduardo Braga (AM) para o posto de relator. O senador é considerado pelo presidente um nome mais aberto ao diálogo.

ELOGIO – Em cerimônia de posse do ministro do Turismo, Gilson Machado, no fim de 2020, Bolsonaro elogiou Braga, que estava sentado na cerimônia ao lado dos senadores Eduardo Gomes (MDB-TO) e Fernando Bezerra (MDB-PE).

“Tenho certeza de que esse trio maravilhoso, que está na minha frente aqui, resolvendo a questão da Mesa da Câmara e do Senado, vai ser bem resolvido, tenho certeza disso”, afirmou.Para o cargo de presidente da comissão de inquérito, a articulação política do Palácio do Planalto tem atuado para evitar a escolha de Randolfe, autor do requerimento de criação da CPI da Covid. O senador já manifestou interesse no posto.

O Planalto também não tem simpatia por uma indicação para a função do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), que deve compor a comissão de inquérito e já disse que é preciso parar Bolsonaro.

GOVERNISTAS – A base aliada cita como nomes que poderiam representar um meio-termo para a presidência os dos senadores Marcos Rogério (DEM-RO) e Jorginho Mello (PL-SC), apesar de ambos serem considerados governistas por congressistas de oposição.

Apesar de a CPI ter sido criada na terça-feira, o governo federal aposta que o STF (Supremo Tribunal Federal), em sessão nesta quarta-feira, dia 14, deve estabelecer que ela inicie os trabalhos mais para frente, quando forem permitidas as reuniões presenciais no Senado.

Mesmo que ocorra um adiamento, o Planalto quer ganhar tempo. A ideia é que já seja preparada uma espécie de cartilha com indicadores e realizações da gestão federal para municiar a tropa de choque do governo na CPI. O material deve ser preparado em conjunto pelos ministros da Saúde, Marcelo Queiroga, e das Comunicações, Fábio Faria.

ANÁLISE DE CONTRATOS – Além disso, para evitar surpresas indesejáveis, a articulação política defende que seja promovida uma análise prévia nos contratos principais da Saúde para afastar indícios de irregularidades.

Na avaliação do entorno do presidente, questões como a crise do oxigênio em Manaus podem ser terceirizadas por Bolsonaro. Nesse caso, ele pode responsabilizar o ex-ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, ou o governo estadual.

Em relação à recusa de ofertas da Pfizer, o que permitiria entrega de vacinas ainda no ano passado, o governo já vem adotando a narrativa de que as cláusulas do contrato só podiam ser atendidas depois da aprovação de um projeto pelo Congresso.

CALCANHAR DE AQUILES – Bolsonaro, porém, tem um calcanhar de Aquiles, na avaliação de ocupantes do Planalto. A politização da Coronavac —uma guerra que ele travou com o governador de São Paulo, João Doria (PSDB)— tem todas as digitais do presidente.

Bolsonaro chegou a chamar o imunizante de “vacina chinesa” e a desautorizar Pazuello no dia seguinte ao anúncio de um acordo para aquisição da vacina, alvo de críticas presidenciais até se tornar a solução para o início da campanha de imunização no Brasil.

Para tirar o foco do governo federal, a estratégia desenha da pelo presidente é que a tropa de choque foque nos recursos federais enviados durante a pandemia do coronavírus a estados e municípios. Apesar de a CPI ser proibida de investigar estados, ela pode se debruçar sobre repasses federais.

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PROVÁVEIS NOMES INDICADOS PARA A CPI DA COVID:

Ligados ao governo Bolsonaro: Ciro Nogueira (PP-PI), Jorginho Mello (PL-SC), Eduardo Girão (Podemos-CE), Marcos Rogério (DEM-RO)

Independentes ou de oposição: Eduardo Braga (MDB-AM), Renan Calheiros (MDB-AL), Omar Aziz (PSD-AM), Otto Alencar (PSD-BA), Tasso Jereissati (PSDB-CE), Humberto Costa (PT-CE) e Randolfe Rodrigues (Rede-AP)

Distribuição das vagas na CPI da Covid:

MDB, PP e Republicanos: 3 titulares e 2 suplentes
PSDB, Podemos e PSL: 2 titulares e 1 suplente
DEM, PL e PSC: 2 titulares e 1 suplente
PT e PROS: 1 titular e 1 suplente
PDT, Cidadania, Rede e PSB: 1 titular e 1 suplente
PSD: 2 titulares e 1 suplente