Em meio à quarentena, um poema exibe a necessidade de repensar o Brasil e o mundo

Desigualdade nos mantém na pobreza - Blog do Ari Cunha

Charge do Arionauro (Arquivo Google)

Celso Serra

Considero útil tudo o que leio – concorde ou não com a posição do autor –,  quando o texto me faz pensar. No dia 25/12/20, aqui na Tribuna da Internet, ao ler a poesia do nosso Paulo Peres intitulada “NATAL” mergulhei profundamente em meus pensamentos.

Paulo Peres começa por nos lembrar que, por interesses monetários, parte da humanidade vem substituindo no Natal a imagem e a filosofia religiosa de Jesus Cristo pela figura de Papai Noel.

NOEL DOS POBRES – Logo depois mergulha em nossa realidade mostrando que Papai Noel jamais se lembra das crianças pobres, notadamente aquelas no último degrau da pobreza que  – desabrigadas – dormem nas ruas nos bancos das praças ou sob marquises, com fome, com frio, sendo utilizadas pelos criminosos, ou seja, aprendizes do crime.

Inconformado com a situação que o nosso Brasil chegou, Paulo finaliza informando que jogou no lixo um enfeite de Papai Noel, armou um humilde presépio e na benção de Jesus Cristo festejará seu Natal.  Uma sincera lembrança e homenagem ao real e histórico passado.

Mergulhei no presente ano que se encerra – ano marcado por tanto medo, indignação e revolta com tudo, especialmente com os dirigentes dos povos, sejam asiáticos, europeus, africanos, americanos ou brasileiros – e me perguntei: o que realmente importa?

NATAL SOLITÁRIO – Familiares e amigos distantes, praias proibidas aos seres humanos, parques, lojas, restaurantes e bares fechados (sou carioca e os bares “fazem muita falta”, como dizia o saudoso João SaldanhaM gaúcho de nascimento e carioca de comportamento).

Rostos de pessoas bonitas cobertos por máscaras, sem ser Carnaval. Instituições de ensino fechadas para crianças e adultos. Lares transformados em melancólicos locais de trabalho. E um vírus imigrante inimigo invisível e pouco conhecido do lado de fora da porta, querendo entrar.

Com a injusta prisão domiciliar que me foi imposta – sem ter roubado qualquer centavo do dinheiro público, portanto, sem a necessidade de habeas corpus emitido por qualquer “garantista” do Supremo Tribunal Federal – a opção foi viajar para dentro, no que muito fui ajudado pela poesia do nosso Paulo Peres.

O QUE IMPORTA? – A pergunta que a mim fiz  (“o que realmente importa”)  escancarou uma enorme possibilidade de caminhos, por simples observação da vida que meus amigos estão sendo obrigados a levar: alguns se dedicaram à música, outros a trabalhos manuais, poucos à pintura e, os mais gulosos, à culinária. Os mais fleumáticos decidiram mergulhar em busca da espiritualidade e do autoconhecimento.

Hoje temos a certeza que todos os nossos pontos de referência possuem por origem o mundo externo, o mundo de nosso relacionamento: trabalho, amigos, família, escolas, clubes, associações culturais, academias de educação física, salões de beleza e barbearias, bares e outros pontos de encontros urbanos.

No momento – e isso se percebe na mídia e nas comunicações sociais – muitas pessoas têm medo que a totalidade desses pontos de encontro social possam desaparecer. Daí, começam a buscar o sentido da própria vida e a se questionar: “o que faço, qual a minha função social?”; “para onde vou?”; “para onde quero ir?”; “como encontrar a mim mesmo?

INCERTEZA E TEMOR – Não temos a menor dúvida que todo esse clima de isolamento, ansiedade e angústia, pode dar origem a sentimentos coletivos de incerteza e temor.

Nessa hora é que a internet surge como uma forma eficaz de conexão e que, em sinergia com a meditação pode ser uma ferramenta importante para tranquilizar a mente e ajudar a lidar melhor com esse momento tão cruel por que passa o ser humano.

Com o confinamento em nossas próprias residências, estamos sendo intimados a olhar para dentro de nós mesmos e a refletir sobre o que queremos fazer com nosso tempo, nossas aptidões, a sociedade em nosso entorno no presente momento e após essa tortura coletiva terminar.

O BRASIL PRECISA – Isso nos faz lembrar a poesia de Paulo Peres citada no início desse artigo, ela mostra, sem a menor dúvida, que o Brasil precisa de nosso trabalho.

Tenho a certeza de que, se aproveitarmos o confinamento a que estamos sendo submetidos para aperfeiçoar o conhecimento, cultivar paz psicológica, a autoconsciência e a luta por uma sociedade mais justa, sairemos da quarentena mais fortes do que ingressamos.

O confinamento, olhando pelo lado construtivo, pode nos proporcionar a conexão entre mente, espírito, corpo e disposição de luta para exigir dos agentes públicos uma sociedade mais justa, pois, afinal, pagamos uma carga tributária das mais altas do planeta.

É UMA CONVOCAÇÃO – Com o que o setor público arrecada, dentre outras necessidades, não era para mais existir crianças sem escolas, povo ser serviço de saúde eficiente, enorme número de brasileiros sem saneamento básico e moradores de rua passando terríveis necessidades.

A quarentena mostrou que poesia de Paulo Peres é uma convocação a todos nós para a luta por um Brasil mais justo.

Feliz 2021, com muita saúde e paz para todos.