A impunidade é sangria desatada.Por José Adalbertovsky Ribeiro

comentarista Por José Adalbertovsky Ribeiro – Jornalista e escritor 

MONTANHAS DA JAQUEIRA – Crime hediondo, covarde e repugnante, o assassinato da juíza carioca Viviana Vieira provocou  indignação na consciência nacional e feriu os brios de potentados dos poderes sacrossantos da República. Ressoa a sentença: não ficará impune!  Convém conferir o script com base em dados da realidade já vivida, mais que discursos e promessas. A prática é o critério da verdade, ensina a dialética.

Primeiro ponto: o assassino será chamado a partir de agora de “suspeito”. Com a faca em punho e sangue nas mãos, o assassino, aliás, o suspeito aplicou 16 facadas no corpo da vítima na frente de três filhas dela em desespero. Preso em flagrante, ficará recolhido em ala reservada de segurança em presídio, por ser portador de diploma superior, com direito a regalias. Vai contar com atendimento jurídico e psiquiátrico. É a lei, dizem os garantistas, a lei imoral, deveriam acrescentar.

Dá licença um aparte: em 1992 a atriz Daniela Perez, filha da diretora Gloria Perez, foi morta com 18 golpes de tesouradas aplicadas por um casal de atores bandidos que trabalharam em novela com ela. Depois de muitas manobras e patifarias jurídicas, o casal de bandidos foi condenado a sete anos de cadeia e cumpriu o final da pena em liberdade. Ainda na cadeia o bandido se converteu em pastor de seita de satanás. Excrescência humana, continua hoje a respirar impunemente o ar da natureza.

O maldito assassino da juíza, desculpa, o maldito suspeito vai dar um mergulho até que a opinião pública se envolva com novas tragédias. Se tiver grana para mexer com os pauzinhos poderá adiar o julgamento por tempo indeterminado. Enfim, digamos, poderá ser condenado a 20 anos ou 25 anos de cadeia e terá direito a recorrer em liberdade. A progressão (regressão) irá reduzir a pena a 1/6. Daqui a 4 ou 5 anos o bandido estará solto para propagar o exemplo da impunidade.

Um ministro supremacista questiona o que poderia ter sido feito para prevenir tais feminicídios. Estes caras sabem de tudo e tiram onda de inocentes. Simples responder: reformular o arsenal de leis feitas de caso pensado para favorecer criminosos. Aliás, simples e complicado, porque a mega indústria da impunidade é poderosa e intocável. Corrupção, suborno e impunidade fazem parte das veneráveis tradições verde-amarelas.

Exemplo “máster” de impunidade: uma deputada com nome de flor mandou matar o marido em junho-2019, tudo foi provado e ela continua reinando com galhardia, sob o manto da imunidade parlamentar. Serve de mau exemplo para todos os assassinos, inclusive assassino de juíza. Imunidade parlamentar vai além do Parlamento. Se vossa excelência é impune, a galera sente-se no direito de também ser impune.

Progressão de pena, prisão somente na undécima instância, saidinhas, regalias para réus primários – rolam as pedras da indústria da impunidade e sucedem-se os homicídios, feminicídios, infanticídios, os cídios de todas as derivadas.

Impunidade é sangria desatada, não tem remédio.